Arquitetura _ 18 maio _ por Simone Raitzik

Alberto Renault: em cada casa, uma história

O nome por trás das histórias e locações do programa “Casa Brasileira”, Alberto Renault diz que adentra cada novo ambiente buscando memórias, aromas e enquadramentos que tragam o cuidado e a beleza do lugar.

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Do sobrado à mansão, o olhar de Alberto Renault recai em detalhes sutis, que traduzem o estilo de vida dos moradores. Por meio, inicialmente, do programa "Casa Brasileira", ele mostrou-se um mestre em fazer poesia com imagens que revelam a intimidade do lar. “Quando tive a ideia de filmar casas, me preocupei em desenhar um formato novo, menos viciado em fórmulas, e que trouxesse a essência e a emoção de quem (e como se) vive ali”, diz ele. Renault atua também como escritor, roteirista, cenógrafo e por anos foi diretor do “Brasil Legal”, apresentado por Regina Casé na TV Globo, entre 94 e 96. “Minha formação é múltipla, já lancei livros, dirigi óperas, criei cenários. Foi a Regina quem me trouxe para a TV, há 30 anos, depois de ver meu trabalho de adaptação da peça ‘O homem sem qualidades’, da Bia Lessa”, conta ele, que contabiliza uma indicação ao Emmy internacional, em 2018, na categoria programa de arte (com “Palavras em Série”, onde atrizes revisitavam a obra de autoras consagradas da literatura). A curiosidade de Renault pelo tema “casa” começou cedo. Ele conta que morava em um prédio alto, de 20 andares e, de forma divertida, ia tocando em todos os botões do elevador, só para dar uma espiada na decoração dos halls. As portarias eram outra obsessão, assim como as janelas iluminadas, que observava da rua, vidrado. “Esse ritual de criança me tornou um voyeur de casas e costumes. Nunca perdi esse interesse”, diz. Há 13 anos, depois de montar três bem-sucedidas exposições de design e mobiliário no MuBE, em São Paulo, convidado pela curadora Baba Vacaro, surgiu a oportunidade de fazer um programa para o GNT sobre o tema que tanto o fascinava: o morar. “As mostras no MuBE eram lindas, mas efêmeras. Sugeri então criar uma série com cinco episódios, apresentando arquitetos e designers renomados, começando com Sérgio Rodrigues, explica. A primeira temporada foi um sucesso e acabou virando uma saga que se alongou por vários anos, abordando diferentes temas, e rendendo frutos: o ‘Morar’, apresentando casas mais simples em todo o Brasil e o ‘Lar: vida interior’, que partia de um objeto específico. Por último, Renault lançou o ‘De casa em casa’, em um canal no Youtube, que analisava um projeto por vez, sempre explorando a relação do morador com o entorno. “Em todos, nunca quis apontar soluções e dicas práticas. Minha história é inspirar e, não, ensinar”, afirma. No início, Renault confessa que não sabia diferenciar viga de pilar. Mas, ao longo do tempo, foi aprendendo alguns conceitos básicos. “A minha falta de conhecimento mais formal em arquitetura me ajudou a imprimir, nos roteiros do programa, o que já dominava: uma dramaturgia estética. O que me emociona, em uma casa, é me imaginar vivendo ali”, revela. Durante as filmagens, ele tinha o ritual de ir fotografando, com celular, cenas e ângulos que achava interessante para dividir com o cinegrafista. O resultado foi um acervo de centenas de imagens que viraram um livro, “Fotos caseiras”, lançado em 2022, pela editora Capivara, de Bia e Pedro Corrêa do Lago. “Escrevi um texto onde contava um pouco da minha história e a íntima relação que criei com as locações. A Bia leu, adorou e sentou comigo para selecionar 150 fotos e compor a edição. Uma verdadeira coletânea visual de todo esse processo. Adorei ter esse registro precioso”. O documentário “Anna Mariani, Anotações Fotográficas”, recém-lançado, leva também a assinatura de Alberto Renault na direção e apresenta a trajetória dessa fotógrafa e artista que registrou, entre os anos 80 e 90, casas vernaculares, enquadradas de forma extremamente singela, simples, mas rigorosa, na série “Pinturas e Platibandas”. “É um trabalho antológico, importantíssimo, um art déco sertanejo. Foi uma honra receber o convite para dirigir esse documentário e pensar em como revisitar uma obra tão potente, que revela com maestria o interior do Brasil. Resolvi partir dos textos de Anna, presentes em seus livros, e convidei nomes como Caetano Veloso, Tom Zé, Regina Casé, para lê-los, em off. O resultado ficou emocionante”, arremata, dando uma pequena pincelada dos projetos futuros. “Estou na fase de pensar um programa novo sobre casas e, assim, continuar a viver essa delícia que é visitar lugares e pessoas interessantes, conhecendo seus cães simpáticos e tomando café com bolo quentinho. Tem coisa melhor?”, brinca.