Design _ 19 julho _ por Silvana Maria Rosso

Do acaso ao luxo, designer por vocação

Profissional multidisciplinar e pensador do design e do urbanismo, Aldo Cibic é reconhecido no mundo do luxo pelas peças colecionáveis que cria, situando-o como expoente do design italiano.

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Desde criança, Aldo Cibic, um dos fundadores do Memphis, grupo italiano de design radical, tem predisposição para o belo. “Eu já era atento à estética”, lembra. Nascido em Schio, cidadezinha da província de Vicenza, no Vêneto, aos 14 anos, Aldo adquire sua primeira peça de design: nada mais nada menos que uma cama assinada por Vico Magistretti. A partir desse episódio, o design e Aldo ficam cada vez mais íntimos. Frequenta a Escola Politécnica Design, em Milão, mas se intitula autodidata, chegando a ser sócio do escritório do arquiteto Ettore Sottsass. Como consequência do encontro, participa da fundação do Memphis. Inovador por vocação e distante das etiquetas estilísticas, Aldo adota a experimentação como praxe. Após 12 anos de convívio com os radicais do design, no fim dos anos de 1980, funda seu estúdio e, em 1991, lança Standard, grife de autoprodução, quando se afasta do padrão radical e vai de encontro a sua linguagem, onde a cor e a composição de diversos elementos são sua marca registrada. Aldo é reconhecido no mundo do luxo pelas peças colecionáveis que cria, expostas em museus importantes como Centro Pompidou em Paris. Também é considerado no mundo acadêmico por pesquisas expressivas nos âmbitos urbano, residencial e ambiental, que valorizam às necessidades humanas e a interação com a natureza. Graças às suas investigações, desde a primeira década dos anos 2000, Aldo leciona como professor honorário na Tongji University, em Shanghai, trocando, há cinco anos, a Itália pela China. A convite do reitor da universidade, o designer requalifica um bairro de aposentados e transforma um apartamento popular de 30 m2 em um recanto charmoso, pontuado por cores e muito design, onde passa a morar. Micro Home, como fica conhecida sua casa, é chamariz para um novo projeto em 2024: ZiHome, um apartamento modelo desenvolvido para ser replicado pela Ziroom, uma empresa líder na locação de imóveis de longa temporada. ZiHome promove Aldo a astro do design chinês, participando de programas televisivos e figurando cartazes promocionais do imóvel. Pode-se dizer que agora o criador e suas criaturas finalmente são reconhecidos nas ruas pelas pessoas comuns! Profissional multidisciplinar e pensador do design e do urbanismo, Aldo Cibic é considerado expoente do design italiano. Há cinco anos vivendo na China, o designer abre espaço para FLO Magazine durante a rápida passagem pela cidade por Milão para expor seus objetos colecionáveis na galeria Paola C. Aldo conta que o primeiro contato com o design se deu aos 14 anos, durante o processo de separação dos pais e a mudança de cidade. Anos depois de mobiliar o quarto com a cama de Magistretti, assume a missão de encontrar a casa que viveria com o pai e o irmão, assim como providenciar todo o mobiliário. “Aos 17 anos, eu já era designer de interiores”, afirma. A grande virada de Aldo se dá-em 1977. Escondido nas montanhas vênetas, conhece, por acaso, a pessoa que o apresenta ao arquiteto Ettore Sottsass. Em 1980, torna-se sócio da Sottsass Associati. “Eu não era um radical”, confessa o designer. “Para Sottsass era tudo preto e branco, o que tirou minha saúde por um bom tempo. Fui para o lado oposto, que era de onde eu tinha vindo e que correspondia mais a mim”, desabafa. Nos primeiros anos da década de 1990, Aldo lança a linha de móveis e objetos Standard e dá início à sólida parceria com a amiga Paola Coin (Paola C.), que passa a produzir e comercializar algumas de suas criações. Suas peças inusitadas e coloridas passam a fazer parte de acervos permanentes de importantes museus, como o Victoria and Albert Museum em Londres, a Triennale de Milão e o Centre Pompidou em Paris. Combinações inusitadas de cores, cores que se relacionam a objetos e/ou coisas. Sob o ponto de vista do designer, tudo transforma-se em arranjos agradáveis para os olhos e para a alma. Depois de deixar o grupo Memphis, Aldo Cibic trilha variadas vertentes. No fim dos anos de 1980, funda Cibicworkshop – estúdio de design e centro de investigação multidisciplinar –, e atua como professor na Domus Academy, em Milão. Por 19 anos é diretor artístico e divulgador da galeria Paola C., assumindo posteriormente o papel de consultor criativo e cultural. Com Paola Coin, passa a difundir o design nas escolas, por meio de exposições, baseadas em suas pesquisas que se convertem em novos produtos. Até levar à China a exposição “Shanghai made in Italy” e receber o convite para ser professor honorário da Tongji University, uma das mais importantes universidades chinesas e do mundo, onde ainda leciona. Para o visionário Aldo Cibic, o design é uma ferramenta capaz de melhorar a qualidade de vida das pessoas e propiciar felicidade. Com esse pensamento, já lecionando na Domus Academy, cria o design de serviços. Uma modalidade que não só projeta o desenho do território e a vida do ambiente, assim como define as atividades que nele ocorrem. Seu projeto “New Stories, New design” abre portas para novas investigações que saem da cidade convencional e apontam em direção do campo e novos estilos de viver. No currículo de Aldo, encontramos várias participações na Bienal de Veneza e uma série de pesquisas, onde a natureza é proposta como recurso urbano, social e educacional. Trilhar para a China encaminha o designer ao fim tão sonhado. “Depois de 20 anos, encontrei um chinês fantástico com quem estou concretizando essa história em modo de grande impacto”, anuncia. Trata-se de “Closer to Nature”, projeto de revitalização de uma aldeia de agricultura biológica, a 30 minutos de Shanghai – colaboração entre o Cibic Workshop e estudantes da Universidade Tongji e o arquiteto Philip Yuan. A genialidade de Cibic sobrepõe sua simplicidade e atrai diferentes públicos e clientes. E é um projeto para a universidade que o leva mais uma vez à fama. A convite do reitor da Tongji University, Aldo revitaliza um bairro operário. Depois muda-se de vez para lá e passa a morar em sua charmosa Micro Home, que viraliza em revistas famosas do mundo todo. Em 2024, é o retrato de Aldo que viraliza por Shanghai, graças ao projeto ZiHome, encomendado por uma das maiores gestoras de imóveis, atraído pelo projeto de sua casinha. “Com pouco dinheiro é possível fazer uma coisa de grande qualidade doméstica”, garante o autor do imóvel luxuoso que vem fascinando quem deseja viver na cidade.