Artes _ 08 janeiro _ por Simone Raitzik

Batman Zavareze, o super-herói multimídia

O que Claude Troisgros, Marisa Monte e Los Hermanos têm em comum? Todos são clientes do criador e designer multimídia Batman Zavareze, autor do visual de shows, cerimônias e ambientes que esbanjam emoção (e imersão).

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Quando criança, Marcelo Zavareze gostava de desenhar quadrinhos. Era obcecado pelo universo dos super-heróis, onde criar soluções fantásticas para salvar o mundo virava uma missão possível. Essa mania (e talento) lhe rendeu o apelido de Batman, e foi assim que ele ficou conhecido no seu primeiro emprego na MTV, como assistente de câmera, ainda quando cursava a faculdade de Design Gráfico/Comunicação Visual no Rio de Janeiro, nos anos 90. “Eu cheguei a conversar com o Zeca Camargo, na época meu chefe na MTV, sobre a questão do nome. Ele me convenceu que deveria assumir o Batman e tornar a brincadeira uma assinatura, um diferencial. Segui seu palpite e não é que deu certo?”, lembra. Foram alguns anos trabalhando ali, onde admite que teve uma verdadeira formação criativa, paralela à academia. “Eu já entendia muito de equipamento, porque vivia estudando lentes e enquadramentos, acompanhava os lançamentos. E na MTV tive a oportunidade de gravar entrevistas e clipes com Gil, Ney Matogrosso, Caetano, entre tantos outros nomes que tanto admirava. Esse universo artístico mexeu muito com a minha cabeça”, conta ele. Mais tarde, já com o diploma de designer na mão, Batman teve a sensação que a profissão de cameraman tinha os dias contados. “Eu entrei na universidade desenhando a mão. Saí em plena revolução dos computadores, tudo digital. Percebi que tinha que apostar não apenas na técnica mas, também, na criação, nos processos e nas formas de inovar”, revela. E foi aí que ele partiu para os Estados Unidos e, em seguida, para Londres, interessado em estudar e buscar novas experiências. Tinha economizado durante o tempo da MTV e queria sair pelo mundo, investir em conhecimento. Essa temporada internacional acabou rendendo um emprego na Fabrica, agência criativa de publicidade de Luciano Benetton e Oliviero Toscani, em Treviso (Itália), onde Batman aprendeu que, para produzir algo novo, precisava se desafiar e apostar na interdisciplinaridade. “Descobri que queria ser um ‘desespecialista’, termo que conheci com Haroldo de Campos. Parti para estudar pintura, modelo vivo, cenografia. Explorar o que não tinha domínio, me permitir escutar e, quem sabe, errar. Só assim sairia da acomodação, da zona de conforto." Na volta, Batman foi viajar pelo país, em projetos em parceria com os cenógrafos Gringo Cardia e Bia Lessa, encarregados de montar um pavilhão para a Expo em Hannover e queriam que ele filmasse os diferentes Brasis. “Desenvolvi o método e a técnica para um cinema com cinco telas em uma projeção de 360 graus”, explica. “Conheci, ainda na estrada, realidades que foram completamente transformadoras na minha trajetória. Em uma dessas paradas, dei de cara com um senhor artesão talhando uma porta de madeira. Perguntei quanto tempo ele levaria para fazer esse trabalho. Ele respondeu: ‘levei 65 anos para fazer em 15 dias’. Esse se tornou meu mantra”, reflete. E vai além: “O que me alimenta profissionalmente é o processo, a pesquisa. Fico seduzido com passado e futuro, com desenho a mão e tecnologia. Os dois lados me movem com a mesma paixão e intensidade. Brinco com essa pororoca de técnicas”. Em 2011, já estabelecido na cena carioca como diretor, curador e organizador do festival Multiplicidades - que une imagem e som, com o atravessamento e o olhar da tecnologia - veio o convite para dirigir o show de Marisa Monte. “Consegui entender que para cada novo projeto eu precisava de tempo, de desenvolver uma ideia do início ao fim. O Multiplicidade foi, para mim, um super mestrado, já que pesquisava e convidava nomes de vanguarda, do mundo inteiro, para o festival. Muitos artistas começaram então a me procurar dizendo ´’quero fazer com você algo novo, que não vi em nenhum lugar’. Tom Zé, por exemplo, queria tocar eletrodomésticos. Arnaldo Antunes, fazer poesia com pedais e loopings. E aí veio a parceria com a Marisa, que me deu total liberdade e seis meses de prazo para criar a concepção do show. Chamei um hacker que conseguiu mapear o corpo dela criando um efeito hipnotizante com o som da sua voz. Foi emocionante”, conta ele. Hoje Batman reúne uma clientela vip de peso, que inclui desde Roberto Carlos e Zeca Pagodinho a Claude Troisgros. Foi diretor artístico da cerimônia de encerramento das Olimpíadas do Rio e da posse de Lula, no início do ano. “Meu interesse agora é ter afeto - afetar e ser afetado”, resume. - Direção, câmera e edição do vídeo: Felipe David Rodrigues. Imagens adicionais: Batman Zavareze. Editor responsável: Renato Henrichs.