Bienal de Arquitetura de Veneza: um laboratório para o futuro
A proposta da 18ª edição da Exposição Internacional de Arquitetura é funcionar como um grande laboratório de experimentos e de ideias, em torno dos espaços que habitamos.
A curadoria da arquiteta afro-escocesa Lesley Lokko criou para a 18ª edição da Exposição Internacional de Arquitetura, Biennale Arquitetura, de Veneza, um laboratório do futuro. Aliás, a denominação do espaço é justamente essa e pretende funcionar como um grande laboratório de experimentos e de ideias, em torno dos espaços que habitamos, nas suas variadas escalas e localizações, refletindo sobre as tradições, o que se perdeu, o que se preservou e o que se pode modificar e melhorar. A exposição “O Laboratório do Futuro” é dividida em seis partes e composta por 89 participantes, mais da metade dos quais são da África ou da diáspora africana. O equilíbrio de gênero é paritário e a média de idade dos participantes é de 43 anos. 46% dos participantes consideram que a formação profissional se dá com a própria atividade e, pela primeira vez, quase metade dos participantes vem de estúdios autoconduzidos ou de até cinco pessoas. Participam da mostra 64 países, com pavilhões distribuídos pelos Jardins, Arsenal e Forte Marghera, além dos nove eventos colaterais, realizados em outros pontos de Veneza. Dentre eles, selecionamos nove pavilhões que foram realizados seguindo o conceito base proposto por Lokko. “O Laboratório do Futuro” estará aberta ao público até 26 de novembro de 2023. Fotos de Andrea Avezzù Marco Zorzanello, Matteo de Mayda/La Biennale Venezia.

GRÉCIA - O território helênico foi geofisicamente moldado, desde o século 10, em grande parte por uma série de intervenções antropogênicas catastróficas ou criativas, como pastagens extensivas e desertificação. Após a constituição do Estado grego moderno, e com grande intensidade a partir de 1950, as albufeiras, a drenagem, a irrigação, o abastecimento de água e os projetos hidroeléctricos constituem um sistema de apoio à produção agrícola e a todo o tipo de actividade humana. É uma transformação do território em que se inventa, constrói e operacionaliza um novo mapa hidrogeológico do país. "Bodies of Water" aborda essa construção geológica em evolução, investigando e apresentando a presença problemática desses corpos e seus trabalhos técnicos como um Laboratório do Futuro. Curadores: Costis Paniyiris e Andreas Nikolovgenis
Foto La Biennale
PAÍSES NÓRDICOS - O pavilhão da Suécia, Noruega e Finlândia acolhe "Girjegumpi: the sami architecture library" que durante a Bienal será o novo "acampamento base" do coletivo liderado pelo arquiteto e artista sámi, Joar Nango. No centro do projeto, iniciado em 2018, estão a arquitetura e a linguagem das populações nômades originárias da Lapônia. O acampamento gira em torno do Girjegumpi - termo formado pelas palavras giri, que na língua sami significa livro, e gumpi, ou uma pequena cabana móvel sobre um trenó. É um arquivo nômade, que preserva a cultura material sámi através de vários objetos recuperados, obras de arte e uma biblioteca de mais de 500 volumes, juntamente com os números da revista e da série de televisão criada pelo coletivo nos últimos anos. Curadores: Carlos Minguez Carrasco, James Taylor-Foster (ArkDes)
Foto La Biennale
LETÔNIA - "TC Latvija" ressalta o processo das escolhas em um mundo de infinitas possibilidades. Onde nos posicionamos? Em quem confiamos? O que realmente gostamos? A mostra da Letônia reinterpreta edições da Bienal de Arquitetura, a partir de 2000, e as traduz em gôndolas de supermercado. Cada edição é contada por meio da coleção de embalagens, que trazem os títulos e os slogans das instalações que os pavilhões nacionais apresentaram naquele ano. Os autores, Ernests Cerbulis e Uldis Jaunzems-Pētersons, convidam à escolha da bienal favorita em uma divertida brincadeira. O visitante tem o direito à compra de três produtos, depois de jogar a bola na prateleira da edição preferida. Ao sair, ele passa no caixa e paga a conta! Expositor: Anna Barlik, Marcin Strzała
Foto La Biennale
POLÔNIA - Com curadoria de Jacek Sosnowski, o pavilhão polonês, "Datament", nos aproxima dos dados na sua forma bruta, permitindo-nos vivenciá-los tais como são, para além do seu âmbito de interpretação. O espaço do pavilhão é ocupado pelos esqueletos de quatro casas construídas em escala 1:1. Aparentemente caótica e cheia de soluções ilógicas, a instalação reproduz fielmente os dados em sua forma não filtrada. O objetivo é abrir o debate sobre como as novas tecnologias não são capazes de nos oferecer soluções prontas, mas podem nos ajudar a nos questionar melhor Expositor: Anna Barlik, Marcin Strzała
Foto La BiennaleARÁBIA SAUDITA - A mostra "IRTH" (legado), com a curadoria de Basma Bouzo e Noura Bouzo, explora a interação entre passado e futuro, a partir do elemento constitutivo da arquitetura saudita tradicional: a terra. A visita pelo pavilhão começa com o cruzamento de arcos metálicos, revestidos de madeira e ladrilhos, impressos em 3D em padrão irregular e ondulante, lembrando dunas do deserto. De um lado, os portais evocam arquiteturas monumentais, aparentemente indestrutíveis e duradouras; de outro, a transitoriedade da condição material, instável como a areia do deserto, apresentada na cobertura diminuindo gradualmente até desaparecer. Expositor: Albara Osama Saimaldahar
Foto La Biennale
JAPÃO - "Archirtecture, a place to be loved" reflete sobre a forma de como os ambientes construídos apreendem memórias e histórias, assumindo formas e significados de forma flexível. Focada na experiência de relacionamentos, com distância social, vividos durante a pandemia, a intervenção japonesa explora como as pessoas podem novamente admirar a arquitetura e se alegrar em ambiente físicos compartilhados. O pavilhão mostra a arquitetura como um ser vivo que precisa ser nutrido para se desenvolver com as comunidades, e incentiva a vê-la como um espaço para amar e ser amado. Curador: Onishi Maki. Expositores: Harada Yuma, dot architects (lenari Toshikatsu, Doi Wataru, Ikeda Ai, Miyachi Keiko), Moriyama Akane, Mizuno Futoshi
Foto La BiennaleGRÃ-BRETANHA - "Dancing before the Moon", o pavilhão britânicos na Bienal, propõe rituais como uma forma de prática espacial e celebra sua capacidade de transformar e criar espaço. Quando os espaços não são projetados para acomodar determinados comportamentos, culturas ou tradições, os rituais podem ser ferramentas poderosas e disruptivas para facilitar sua ocupação e apoiar diferentes realidades. A exposição reflete os rituais e práticas diárias de diversos contextos globais e culturas que resistem aos poderes e criam espaço para múltiplas perspectivas. Curadores: Jayden Ali, Joseph Henry, Meneesha Kellay e Sumitra Upham. Expositores: Yussef Agbo-Ola, Madhav Kidao, Sandra Poulson, Mac Collins, Shawanda Corbett e Jayden Ali.
Foto La BiennaleCHINA - Nos últimos 40, os arquitetos chineses iniciaram experimentos de renovação urbana e rural, explorando um mundo onde diferentes pessoas possam se comunicar, compartilhar e coexistir e onde a natureza predomine. "Renewal: a symbiotic narrative" relata experiências sobre habitabilidade em ambientes de alta densidade, debatendo sobre as transformações recentes e emergentes no ambiente construído. São muitas as perguntas: Para onde vamos e o que está em jogo? A cidade do futuro será caracterizada por torres modernistas, pátios tradicionais ou uma simbiose dos dois? Ou outras possibilidades serão colocadas em jogo através da tecnologia VR, energia limpa e renovável? Curador: Ruan Xing
Foto La BiennaleFILIPINAS - "Guts os Estuary", o pavilhão das Filipinas, aborda a questão da superlotação desordenada de áreas de importância ambiental ao mostrar problemas de moradores do estuário de Tripa de Gallina, naquele país. Como uma tentativa sustentável de enfrentar os obstáculos, o projeto propõe uma solução de design feita de bambu que serve como boia e referência para as relações entre os moradores da área e um sinal para uma ação colaborativa em nome da resiliência. Curadores: Sam Domingo e Ar. Choie Y. Funk. Expositores: The Architecture Collective TAC (Bien M. Alvarez, Matthew S. Gan, Ar. Lyle D. La Madrid e Arnold A. Rañada)
Foto La Biennale