Arquitetura _ 17 março _ por Mauro Ferreira

Oficina Francisco Brennand celebra a volta do público

De portas abertas, a instituição do Recife preserva e expande o legado do artista plástico morto em 2019 em espaço de arquitetura única que expõe e produz obras em cerâmica

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Situada na Várzea, bairro do Recife (PE), a Oficina Francisco Brennand está de portas abertas. Literal e metaforicamente. Depois de ter passado por ampla reforma estrutural, o instituto entrou em 2024 em plena atividade. “Estamos prontos para receber o público da melhor forma”, exulta Marcos Baptista, presidente executivo dessa instituição cultural originada de ateliê e parque construídos em 1971 pelo artista plástico Francisco Brennand a partir de olaria erguida em 1917. Notório ceramista e escultor, o artista plástico pernambucano Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand (11 de junho de 1927 – 19 de dezembro de 2019) nasceu no Recife (PE) e foi também pintor, desenhista, ilustrador e tapeceiro na trajetória iniciada em fins dos anos 1940. Cresceu nas terras do Engenho São João, na Várzea, onde atualmente, em espaço de 15 mil metros quadrados, a Oficina Francisco Brennand reúne cerca de 2,5 mil obras do artista em exposição. “Arquitetura, pintura e cerâmica estão congregados aqui”, destaca a curadora Rita Vênus. “A ocupação e transformação dos antigos galpões fabris em pátios, templos e jardins conferem ao espaço uma arquitetura única”, ressalta Marcos Baptista. “Some-se a isso o fato de a cidadela, como Francisco se referia ao local, estar encravada no meio de uma reserva ambiental dentro do espaço urbano da cidade do Recife”, complementa Baptista. Em 2019, a transformação do centro cultural em instituto sem fins lucrativos permitiu que o Instituto Oficina Cerâmica Francisco Brennand – este é o nome oficial da instituição desde então – incorporasse um programa educacional premiado, com projetos que incluem exposições temporárias com obras de outros artistas. “A abertura da oficina para outros artistas era um desejo de Francisco Brennand”, lembra a gerente de Educação Ariana Nuala. As exposições temporárias e a produção incessante da olaria – mantida em atividade pelo instituto – permitem que, além de preservar o legado de Francisco Brennand, o instituto expanda a contribuição do ceramista ao universo das artes plásticas do Brasil. “A olaria é o espaço da perpetuação do estilo e da técnica criada e ensinada por Francisco Brennand aos seguidores do artista”, explica Marcos Baptista. Na olaria, são criadas cerca de mil peças decorativas por mês. Uma equipe de oleiros e decoradores molda, decora e “queima” um mix com mais de 100 peças diferentes. Da venda dessas peças, principal fonte de recursos do instituto, vem metade da receita que garante a existência da oficina. Essa receita é complementada com a renda da bilheteria e os recursos obtidos através de patrocínios, sendo o mais substancial o do grupo Cornélio Brennand. Outra fonte de recursos é a venda de obras do próprio Francisco Brennand, que deixou em testamento uma relação de 300 obras que podem ser comercializadas. Trata-se de acervo valorizado no mundo das artes plásticas pelo caráter singular da obra construída por Francisco Brennand. “Embora tenha se relacionado com vários nomes da Arte, Brennand nunca quis se filiar a um movimento artístico. Preferiu correr em paralelo, de certa forma até isolado, e talvez por isso tenha erguido obra única, moderna, criada com a síntese dos estudos do artista, desde a mitologia greco-romana clássica até a relação com a natureza local da Várzea com frutos, árvores, flores e os seres da mata. Para Francisco Brennand, escultura era desenho”, resume Marcos Baptista.