Carlos Vergara: olhos inquietos para a atenção alheia
Vergara emprega pigmentos naturais e minérios para a produção que o coloca como um dos mais inquietos artistas de sua geração.
Carlos Vergara, em sua entrevista para a FLO no ateliê que mantém em uma grande casa no bairro ‘artsy’ de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, surpreende em tudo o que faz - e diz. O artista visual (fotógrafo, pintor, escultor…), confortavelmente acomodado à sombra no jardim em uma de suas cadeiras feitas de pneus de caminhão compradas na feira, declara a partir de uma frase de Winston Churchill (1874-1965, ex-primeiro-ministro britânico): “Se puder sentar, não fico em pé”. Vergara, gaúcho de Santa Maria, aos 80, é filho de pastor anglicano, foi atleta profissional e perdeu o sotaque de sua terra ao adotar o carioquismo. Com calma e bom humor traduz em muitos nãos a sua vida desde a infância, além de dizer sempre sim para a própria vontade de viver e se perpetuar. Não estudou arte, não dá aulas formais, não entende de internet mais que o suficiente. Sim, é ‘multitask’ no seu ofício e, sim também, tem o apoio incondicional, integral e indispensável do filho João, 40, que também deu seu depoimento à nossa @flo.magazine. O menino que pintava nuvens, pelo tédio que sentia em casa, é o velho bonitão que não olha para trás, e aguarda com esperança o tombamento de seu lugar de trabalho - “moro aqui, mas durmo em Copacabana” - que desvendamos em uma manhã ensolarada e alegre. Muito bom ver o artista que enxerga o futuro com olhos atentos para a atenção alheia, a qual quer compartilhar com visitas guiadas… muito bom ouvir alguém falar sobre algo que hoje pouco se pratica, além da produção desenfreada: “tem dias que pinto, tem outros em que penso”. Esse é o incansável pensador é fazedor Vergara, já programando uma nova exposição no modelo que atualmente chamamos de collab. Viva o contemporâneo Vergara!