Arquitetura _ 24 outubro _ por Sérgio Zobaran

Chicô Gouvêa: mistura de estilos de forma constante e bem-sucedida

Um dos mais renomados arquitetos cariocas, Chicô Gouvêa é conhecido por seus projetos arquitetônicos e design de móveis e objetos que realçam a brasilidade e principalmente suas cores.

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Na primeira escola, eram tantos os meninos chamados Francisco na mesma sala, que até o apelido Chico se esgotou. E, na vez de ouvir seu nome na lista de presenças, Francisco Gouvêa virou Chicô, primeiro e único — ou alguém aqui conhece outro? Como um carioca-raiz da Zona Sul, o arquiteto Chicô Gouvêa, formado na Faculdade Bennett, se autoexplica hoje, aos 71 anos: “o que me dá muito prazer é sair de short e tênis pelo Rio, sem rumo, passeando pelas praias, e de repente visitar centros culturais para ver umas exposições… E sempre buscando um boteco, um restaurante engraçado, tudo muito simples, lugares em que a gente senta, bebe e come uma coisa legal. Isso é algo que a cidade ainda tem — e não é um lugar estrelado —, e a gente volta pra casa depois de um dia curtindo, por exemplo, o centro do Rio de Janeiro, que conta a nossa história, porque ainda tem um lindo conjunto arquitetônico. Este “bon vivant”, que sempre trabalhou muito, habita há 16 anos uma casa no bairro da Gávea, em seu trecho bucólico, porém badalado, o chamado Baixo Gávea. Ali, um misto de cidade de interior com metrópole, com seus predinhos antigos e casas de estilos diversos, do art nouveau ao moderno, onde a agitação do trecho cool e cult acolhe e oferece bons restaurantes de todas as nacionalidades e tendências gastronômicas, galerias de arte diversas e ateliês. Neste contexto, a casa de Chicô é protegida por um muro colorido em que imperam o marrom, o amarelo e o branco, em impactante geometrismo: uma interpretação autoral do morador entre as artes de Mondrian e Burle Marx — uma bela excentricidade que chamou a atenção da vizinha e grande atriz Marieta Severo, que um dia tocou a campainha só para identificar o dono e elogiar o painel. Cor é o forte de Chicô em sua arquitetura de interiores também, nos quais a mistura de estilos aparece constantemente. “Sou polivalente e, embora tenha feito mais projetos de residências, os restaurantes, escritórios e exposições também aparecem em minha vida”. De fato, a raiz brasileira está sempre em seus projetos, “em contraponto com a tecnologia e as tendências do momento em que são realizadas”. E ele segue enaltecendo as imagens do Brasil e do Rio, “com suas formas e cores que passeiam pela minha cabeça - e por 16 anos tive uma loja, a Olhar o Brasil, onde criava móveis, almofadas, objetos com essas imagens e referências”. As mostras de décor foram várias. Além da Casa Cor, ele cita a Casa Brasil nas Olimpíadas de Atenas, e uma grande exposição no Museu do Índio. Nos anos 2009 e 2010, Chicô participou de um grande projeto de restauração do conjunto arquitetônico do Convento de Santo Antônio, no Rio, “e junto com uma exposição em que fui cenógrafo em Lisboa, em 2008, depois de tê-la feito no Rio: Os 200 Anos da Medicina Brasil/Portugal, quando mergulhei ainda mais na minha brasilidade, vendo de onde nós viemos”. Assista ao depoimento de Chicô sobre a cor no décor, o dia a dia no bairro e as idas ao centro, a não malandragem, a beleza da cidade que inspira, a tecnologia necessária, a jovem concorrência, a lembrança dos melhores projetos de arquitetura perene ou efêmera…