Design _ 10 novembro _ por Silvana Maria Rosso

Dainelli Studio: o escritório que nasceu de uma viagem

A conexão entre Marzia e Leonardo Dainelli foi inesperada. O casal se conheceu em uma viagem para o Brasil. Desde então, essa parceria vai além do pessoal: há 21 anos, eles caminham lado a lado tanto na vida quanto no trabalho.

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Marzia Dainelli, nascida em Milão, mudou-se para a Toscana, terra de Leonardo, onde viveram por 12 anos. No entanto, em busca de maiores oportunidades, decidiram trocar a qualidade de vida pela efervescência de Milão, centro global do design. E foi lá que o Dainelli Studio atingiu um novo patamar, atraindo até clientes de sua antiga terra. “Ter um estúdio em Milão é mais ‘cool’ para o cliente toscano”, brinca Leonardo. Hoje, o Dainelli Studio não só desenvolve produtos para grandes marcas como Arketipo, Gallotti&Radice, Gebrüder Thonet Vienna, Giorgetti, Lema e Contardi, mas também é conhecido por seus interiores com um toque milanês, principalmente voltados para clientes privados. O Dainelli Studio começou muito antes de sua fundação oficial em 2007. Nascido da relação entre Marzia e Leonardo Dainelli, o estúdio germinou durante uma viagem a Natal, no nordeste do Brasil. Na época, Marzia trabalhava em uma loja de móveis e decoração, enquanto Leonardo atuava como designer para a empresa que organizou a viagem. De acordo com Marzia, o ambiente, as experiências e as pessoas que conheceram no Brasil foram essenciais para que a relação entre eles fosse além do âmbito profissional: “Nos deixou mais abertos, de uma forma diferente do que estávamos acostumados, porque entre Milão e o Brasil há realmente um mundo muito diferente, não é?”. Foi na Toscana que o estúdio ganhou estrutura e onde o casal desenvolveu a linguagem e o estilo que os tornaram reconhecidos. No entanto, a grande virada veio em Milão, quando começaram a se concentrar mais em projetos de interiores. “É o único lugar na Itália onde o arquiteto é realmente respeitado”, revela Marzia. Quando o Dainelli Studio estava na Toscana, o processo criativo era mais “ingênuo”, recorda a arquiteta. Ao se mudar para Milão, uma abordagem mais estratégica se fez necessária, trazendo muitas recompensas: “A cidade oferece não só contatos variados, mas também um status internacional e um posicionamento de destaque”. Apesar do foco do Dainelli Studio ser em clientes privados, a expansão para o varejo e soft contract já está em andamento. Além disso, o desejo de se aproximar do mar inspirou o casal a abrir um departamento dedicado ao design de iates. O estúdio acompanha cada detalhe do projeto, desde a reforma até a escolha de peças exclusivas e de tudo que irá dar vida à casa. Misturando o vintage com o moderno, eles criam ambientes únicos e personalizados, sempre atendendo às expectativas de clientes exigentes e atentos aos detalhes. No Dainelli Studio, os materiais são o coração de cada projeto, muito mais importantes do que a forma. Cada detalhe é pensado para respeitar o espaço e a história do local, especialmente quando se trata de edifícios antigos. O trabalho é artesanal, adaptando os materiais à função do ambiente, com foco em manter o equilíbrio entre o passado e o contemporâneo. Ao trabalhar com materiais como mármore, latão e madeira, o estúdio busca modernizar sem perder a essência. Esse processo exige muita precisão, quase como um trabalho de relojoaria. Mesmo sendo mais custoso do que uma reforma completa, o desafio de preservar o passado enquanto se cria algo atual é o que mais satisfaz. A trajetória profissional de Leonardo Dainelli está profundamente ligada ao lugar onde ele cresceu — uma pequena cidade na província italiana de Pisa, conhecida como polo de produção de móveis nas décadas de 1940 e 1950. Seguindo sua paixão de infância, Dainelli estudou design de produto em Florença e encontrou prazer em dar vida às suas "criaturas", como prefere chamar suas criações: “Tenho dificuldade de chamar de trabalho.” Sua obra é fortemente influenciada pela natureza ao seu redor – as colinas, o mar e as pedreiras de mármore, que já inspiraram grandes mestres como Michelangelo e Leonardo da Vinci. Para Dainelli, projetar um produto exige uma visão cosmopolita, pois ele precisa ser adequado a diversos mercados e pessoas: “Enquanto no design de interiores o cliente é privado, no mundo do produto você deve acertar o detalhe que possa agradar a alguém na África, Ásia, América, Austrália ou Europa. Às vezes, é como um sonho, não? Porque fazer algo que agrade a todos é impossível. Após a pandemia, a casa transformou-se em um espaço de encontro, conforme observa a arquiteta Marzia Dainelli. Antes, havia um desejo maior de sair, mas hoje, essa relação mudou drasticamente. "Percebemos que a casa passou a ser mais valorizada e exibida. O cliente, que tem necessidades contínuas no dia a dia, busca uma casa acolhedora, esteticamente agradável e que também possa ser mostrada com orgulho."