Djavan celebra 50 anos de sucesso no mar alto da paixão pela música
Artista promove o álbum “Improviso” enquanto se prepara para sair em turnê por arenas e estádios do Brasil a partir de maio de 2026 com show de sucessos

Craque fundamental do time da música brasileira rotulada como MPB, Djavan também era um ás promissor dos gramados na adolescência vivida na cidade natal de Maceió (AL), chamando a atenção como meio de campo do escrete juvenil do CSA, principal time local. O jogo virou quando o rapaz avistou um violão encostado na parede da sala onde tinha aula de química prática. “Quando eu abracei o violão, aquela anatomia me encantou imediatamente. Aquilo mudou o meu destino. Dali eu saí músico”, lembra Djavan em entrevista a Flo. Para a mãe Virgínia, lavadeira orgulhosa da “voz bonitinha” do filho desde que Djavan tinha quatro anos, o jogo já estava decidido desde antes do encontro de Djavan com o violão. Virgínia vaticinou que o filho seria cantor de formação moldada pelas grandes cantoras norte-americanas do jazz e também por emblemáticas vozes nacionais propagadas pelas ondas da Rádio Nacional, como as de Angela Maria (1929 – 2018) e Dalva de Oliveira (1917 – 1972), divas da era do rádio. Mas Virgínia talvez não tenha imaginado que, além de cantor de timbre único, Djavan Caetano Viana também seria músico, dono de toque singular ao violão, e extraordinário compositor de assinatura também única, criador de cancioneiro tão requintado quanto popular. É o conjunto dessa obra que Djavan celebra em 2026, ano em que sairá em turnê pelo Brasil, a partir de maio, com show calcado somente nos sucessos. Grandiosa como a obra do artista, a turnê foi idealizada com 16 shows para arenas e estádios para festejar os 50 anos do primeiro álbum do cantor, “A voz, o violão, a música de Djavan”, lançado em 1976 já com hit blockbuster, “Flor de lis”, samba desde então obrigatório no roteiro de qualquer apresentação do cantor. “Eu fui muito feliz nesses anos todos. Compor é a minha alegria. E acabei construindo obra inerente à minha formação diversa”, ressalta o artista. O trampolim para a conquista dessa diversidade musical apareceu quando Djavan tinha 13 anos. Ouvir em aparelho de som quadrafônico (novidade hi-tech da época) os singles e álbuns da alentada discoteca do Dr. Ismar Gatto – pai de um amigo de escola do rapaz, Márcio – abriu os ouvidos de Djavan para o jazz, o blues, a música erudita e a bossa nova, entre outros gêneros matriciais. Ninguém naquela época poderia supor que Djavan amalgamaria todas essas referências – além da música nordestina que absorvera natural e cotidianamente desde que veio ao mundo em 27 de janeiro de 1949 – na criação de música construída com melodias e harmonias sinuosas, além de sintaxe toda própria. A construção foi feita de forma solitária, já que Djavan nunca esteve associado a grupos, como o Pessoal do Ceará, ou a movimentos como a Tropicália e o Clube da Esquina. O que explica o cancioneiro composto com poucos parceiros e gravado com poucos feats. “Eu sempre trabalhei sozinho. É minha maneira de ser. Não tive a turma da Alagoas. A minha obra é particular, pessoal. Encontrar parceiros que possam colaborar não é tão simples. Tanto Caetano (Veloso) quanto Chico (Buarque) disseram que, quando escreveram para mim, escreveram como se fossem eu”, ressalta. A particularidade da obra de Djavan pode ser saboreada no recém-lançado 26º álbum do artista, “Improviso”. O jazz está lá, misturado com pop e outros elementos, em músicas inéditas como “Um brinde” e “Um affair”. Mas há também samba, “Cetim”, e baladas de tons sortidos. Parceiro, há somente um ao longo das 12 faixas, Ronaldo Bastos, poeta do Clube da Esquina, mesmo assim na única regravação do repertório inteiramente autoral, “O vento”, canção lançada em 1987 na voz de Gal Costa (1945 – 2022) e até então inédita na voz do compositor. Foi uma forma de Djavan homenagear Gal Costa, cantora que gravou 13 músicas do compositor de 1981 a 2018. “A gente tinha uma relação de muito afeto. Gal era muito amorosa comigo toda vez que a gente se encontrava”, lembra Djavan. Projetado como compositor em 1975, ano em que defendeu o samba “Fato consumado” no festival “Abertura”, promovido e exibido pela TV Globo, Djavan também lembra que foi na África, ao visitar Angola, precisamente Luanda e a ilha de Mussulo, que se conectou definitivamente com a ancestralidade e se blindou dos preconceitos embutidos nos comentários de que fazia uma música “estranha”, “complicada”. Eram comentários feitos diretores e produtores da indústria fonográfica que queriam enquadrar a obra do compositor na moldura pop. “A minha ida à África foi libertadora. Eu cheguei a sofrer com essa coisa de as pessoas dizerem que a minha música era difícil. Não via muito sentido nisso. Quando fui a Mussulo, as tribos nos receberam com cânticos. Cheguei a chorar ao perceber a semelhança daquela música com o que eu fazia. Isso para mim foi revelador. Aquilo lavou minha alma e nunca mais me incomodei com o que falavam da minha música”, recorda Djavan, cuja gravadora se chama Luanda Records em reverência a esse momento definidor da carreira. Decorridos 50 anos daquele festival de 1975 que selou o destino de Djavan, o sucesso do cantor é fato consumado e o artista permanece com a chama vida da criação, seja nos estúdios de gravação ou nas longas turnês que extenuam o cantor física e mentalmente. A saída, única, é voltar a compor. “A chama ainda é a mesma. Tenho um prazer enorme em fazer música. Sou um músico nato. Deus me colocou no lugar certo”, reflete Djavan, artilheiro das pautas musicais e campeão no jogo da vida.