Silvia Furmanovich: a arte de transformar joias em obras de arte
Reconhecida como uma das artistas mais visionárias no ramo da joalheria, a designer alcançou o mundo com técnicas artesanais que resgatam o fazer manual e o projetam ao futuro
Silvia Furmanovich ainda se lembra da primeira vez que viu o ouro derreter. "Achei aquela luz incrível, parecia que o tempo tinha parado", conta ela, com um entusiasmo que não se apagou nem depois de quase 25 anos. Desde aquele momento, a paixão pela joalheria se tornou o fio condutor de sua vida. O que começou como um hobby despretensioso nos anos 2000, depois de trabalhar com bijuterias, se transformou em uma marca que hoje brilha não apenas no Brasil, mas em 32 pontos de venda nos Estados Unidos e pelo mundo. A história poderia ser só mais um conto de sucesso, tendo Silvia vindo de uma família de ourives, mas há nela também adversidades. Um ano depois de lançar sua marca, ela perdeu o marido e se viu sozinha para criar os três filhos. "Não foi um começo fácil. Minhas joias não são exatamente o que se espera no mercado tradicional. Quem pensa em joia como presente costuma ser mais conservador, mais focado no valor material. Mas minha marca encontrou seu caminho organicamente. As mulheres que já tinham suas peças tradicionais queriam algo diferente, algo que pudessem usar do dia à noite, leve e colorido", explica. Com talento e design, ela foi em frente. Silvia faz da marchetaria – a arte de montar peças com pequenos pedaços de madeira, pedras e outros materiais – sua assinatura. A coleção atual, Alchemia, traz uma borboleta que simboliza suas transformações constantes. "Foi uma viagem interna. Fui criando imagens que me encantavam. Minhas coleções geralmente têm inspiração na natureza, nas formas orgânicas, ou nas culturas que eu descubro nas minhas viagens", conta. "Lanço uma coleção grande por ano e umas duas ou três coleções-cápsula." À medida que a marca cresceu, Silvia precisou se adaptar. "Hoje não dá mais para criar tudo o que eu quero", ela ri. "Tenho que pensar em categorias, em diferentes faixas de preço." E o que mais sai? Brincos, sempre. "As pulseiras são mais complicadas, porque não dá para ajustar muito. Você tem que fazer um protótipo e torcer para dar certo." Mas mesmo com as limitações, ela mantém a leveza e a alegria que são sua marca registrada. Seu processo criativo é quase um diário de viagem. Silvia busca técnicas artesanais e materiais exóticos em lugares como a Amazônia, a China, a Índia, o Chile e o México, sempre se afastando dos grandes centros para encontrar a autenticidade que só o interior preserva. Ela volta dessas viagens com cadernos cheios de anotações e contatos preciosos com artesãs locais. "Olha só a dona Guadalupe", mostra Silvia, com um caderno aberto na foto de uma senhora que trabalha com crina de cavalo e fibra de agave. "Ela faz essas flores delicadas, um processo que exige uma paciência que está cada vez mais rara no mundo de hoje." E é essa conexão com o passado, com o artesanal, que dá profundidade ao seu trabalho. Silvia adora a ideia de significar suas joias para além da estética. "No Egito, as joias eram talismãs, davam proteção, tornavam os rituais mais poderosos. Eu quero resgatar um pouco disso", diz ela. Por isso, uma de suas paixões é reformar joias de família, trazendo peças antigas para o presente, sem apagar a história que carregam. Entre bambu, tapeçaria, mini pintura e marchetaria, a joalheira planeja o futuro com um olhar ativo para o passado. "Quero me aprofundar ainda mais nas técnicas, resgatar tradições que correm o risco de se perder." E mesmo que a tecnologia tenha seu lugar, ela não pretende abrir mão do que faz suas criações serem tão únicas. "Amo revisitar temas, dar uma nova cara ao que já foi feito. Ainda há um mundo inteiro para explorar, e eu quero fazer isso sem perder a identidade." Silvia Furmanovich sabe que, no fim das contas, a beleza está nos detalhes – e é isso que a torna inconfundível.