Arquitetura _ 15 setembro _ por Simone Raitzik

Gigi Barreto: Em busca de espaços com emoção

Depois de passar 20 anos criando cenários em shows e exposições, interpretando e dando vida a universos abstratos, a cenógrafa acrecita que virou uma boa tradutora de sonhos

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Foi durante a pandemia, quando a cenógrafa carioca Gigi Barreto se viu sem trabalho, que surgiu a ideia de começar a desenvolver um novo projeto: o Casa, Vida Cenário, um escritório de arquitetura e decoração que se propusesse a dialogar de forma intensa com os desejos e gostos do cliente, respeitando a essência estética e a história dos imóveis. Com ampla prática em transformar ambientes com emoção e afetividade em shows e exposições, ela conta que sabia que tinha o dom de uma escuta atenta e afiada. “Depois de passar 20 anos criando cenários, interpretando e dando vida a universos completamente abstratos, acho que virei uma boa tradutora de sonhos. E sabia, intuitivamente, que conseguiria fazer isso de forma autêntica nas casas, sempre buscando desenhar espaços únicos, pessoais e repletos de emoção”, aponta. Com pai cearense, mãe carioca e avó indígena, Gigi conta que a base da sua formação é a hospitalidade - sua casa funciona como um ponto de encontro de amigos e família. “Sou mãe de duas adolescentes e, aqui, todos entram e se sentem imediatamente à vontade. Busco trazer essa sensação gostosa de lar em cada projeto que assino”, pontua. Cada cantinho do seu amplo apartamento, com vista para o Aterro e Pão de Açúcar, é preenchido com as referências de sua história e foi exatamente a execução desse projeto, durante a pandemia, que a inspirou a se tornar decoradora. “Durante o processo de mudança, fui compartilhando com amigos o passo a passo da transformação. As reações eram surpreendentes, e todos unânimes em afirmar que eu tinha que fazer isso profissionalmente. Até porque estavam trancados em casa e sentindo falta de um ambiente acolhedor e pessoal”, revela. Resolveu então que faria uma experiência inicial, assinando apenas 10 projetos - e depois voltaria para a carreira de cenógrafa. “Mas o sucesso dessa empreitada foi enorme e hoje, após quatro anos, tenho no currículo um total de 80 reformas concluídas, em diferentes países. Meu diferencial é o foco na sustentabilidade, no valor precioso da mão de obra artesanal e na ideia de resgatar a essência do imóvel, ainda mais quando são em prédios antigos e repletos de história”. Fã de usar cor, de pesquisar texturas naturais e revelar tramas ancestrais, Gigi é avessa a modismos. Sua paixão é vasculhar brechós em busca de móveis usados, que renova com uma equipe fiel de colaboradores. “Além de garimpar, eu conserto e disponibilizo o nome do profissional para que todos possam procurá-lo. Tento promover uma economia circular, um dos pilares do Casa, vida cenário. Compartilho o modo de fazer, os contatos e também o conhecimento”, revela. Hoje, o segmento de educação virou um braço dentro da sua empresa e a agenda inclui aulas sobre uso da cor, assim como a metodologia criativa que usa para o desenvolvimento dos projetos. “Às vezes parto de uma cena de filme, de uma obra de arte, como inspiração. Por exemplo, no apartamento da Monica Martelli, que finalizei recentemente, a faísca veio do quadro ´Feira 1965´, do Heitor dos Prazeres, que vi em uma exposição. O Rio retratado ali tinha um mix encantador de cores e estampas”, afirma, deixando claro que ainda sonha em criar e dirigir uma ópera . “Atualmente o Casa Vida Cenário me ocupa bastante, porque estamos pilotando 17 projetos simultâneos, em diferentes estados e países. Mas sou movida a desafios, portanto, me aguardem”, arremata.