Gastronomia _ 27 dezembro _ por Sérgio Zobaran

Guimas: o bistrô carioca

Criado por Chico Mascarenhas, o Guimas foi um dos primeiros endereços no Rio de Janeiro a ser reconhecido como um bistrô, pequeno, acolhedor e com alma de botequim carioca.

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Antes de mais nada, a explicação do nome Guimas: o restaurante surgiu da junção das primeira sílabas dos sobrenomes dos dois casais de sócios da casa, ou seja, Ricardo e Priscila GUImarães + Chico e Tintim (Maria Cristina) MAScarenhas. Isso posto em 1981, o Guimas surgiu no lugar de um antigo botequim de bairro na pacata Gávea, justamente no epicentro do que viria a ser um pedaço boêmio badalado na zona sul do Rio. Todo o mundo sabe disso, mas quem faz parte desse “todo mundo”? Amigos, vizinhos, artistas famosos e anônimos apreciadores de uma boa comida de bistrô, gênero que então nascia na cidade tomada até então por restaurantes tradicionais de comida francesa ou portuguesa, churrascarias, pizzarias, e os indispensáveis botecos do Rio - mas ali então surgia o novo modelo de bistrô carioca. Chico Mascarenhas, fotógrafo português, e o sócio que sabia cozinhar, trocou definitivamente suas lentes pelas caçarolas e instalou na cozinha o que hoje poderíamos classificar como uma comida afetiva, mistura dos acepipes de sua terra - vide os pastéis de entrada - com o molho francês, e ainda sua típica cesta de pães, manteiga e patê de couvert, e do jeitinho brasileiro, o improviso que fez surgir o inusitado Filé Boursin pela encomenda de um cliente que pediu uma carne com queijo. O chef de então não teve dúvidas ao usar o que tinha em mãos, e criou o prato best-seller até hoje com o recheio do queijo francês, molho de mostarda e peras de acompanhamento - iguaria que não deixa o menu nem por decreto. O Guimas se espalhou em filiais pela cidade, chegando aos bairros de São Conrado, Barra da Tijuca e Ipanema, mas hoje mantém, já na segunda geração Mascarenhas - as filhas de Chico -, apenas o ponto inicial, o querido “Guiminhas” de tanta gente de todas as gerações que ali se encontra com a cumplicidade de quem é reconhecido pelos garçons, barmen e cozinheiros, e os conhece pelo nome, como em um clubinho democrático onde Chico, aos 74, recebe cada um como velho amigo, com seu sorriso discreto e fala mansa cheia de lembranças de um lugar alegre, enfeitado por grandes flâmulas penduradas no telhado da varanda. As flâmulas foram deixadas ali “com o bom gosto da Tintim”, aponta nosso anfitrião, que convida para uma cerveja, e mais outra, após a entrevista que você pode ver e ouvir agora nos vídeos de Felipe Rodrigues, que captou tudo - além da alma de Chico e do lugar, também os inúmeros desenhos emoldurados nas paredes depois de coloridos a lápis de cera nas toalhas de mesa de papel, uma tradição da casa… ah, e não perca o final do episódio de uma visita da cantora Angela Ro Ro ao Guimas que ficou para a história…