Helio de la Peña: Preto de neve
No condomínio residencial mais exclusivo do Rio de Janeiro e ao lado da arquiteta Flavia de Faria, o ex-casseta fala do show de stand up que realiza pelo Brasil e faz piada a respeito da própria negritude.
E o Helio de La Peña, hein? Nada! Não é que o ex-morador da Vila da Penha (daí o trocadilho com seu sobrenome fake), na Zona Norte do Rio, esteja sumido. E, sim, por conta do esporte preferido deste botafoguense nato: o humorista vive nadando, e muito, nas águas das praias da Zona Sul, sempre ao lado de sua mulher, a fotógrafa Ana Quintella. E assim mantém o corpitcho de adolescente nos seus realmente inacreditáveis 63 anos, em treinamento regado ainda a ginástica. Sem a presença dos dois filhos jovens do casal, mas na companhia de uma cadela vira-lata, recém adotada e bastante temperamental, eles nos recebem na calçada em frente à casa modernista no condomínio residencial mais exclusivo da cidade, no final do Leblon. Ali, o “ex-casseta”, e único preto proprietário de um imóvel no pedaço, faz piada da própria condição — veja no vídeo que abre nossa matéria que traz ainda sua amiga e arquiteta Flavia de Faria, que é quem assina a reforma da bela residência bolada a 6 mãos: as dela mais as de Helio e Ana. Em tempos politicamente corretos, Helio nos conta, à sério, sua história de sucesso na telinha. Tudo começou junto aos colegas da faculdade de Engenharia da UFRJ: com Beto Silva e Marcelo Madureira nasceu o jornal Casseta (e não Gazeta) Popular, que recebeu a adesão de Bussunda e Cláudio Manoel e virou revista; até que chegou o convite para fazerem um programa na Globo. Nasceu o "TV Pirata", e em seguida veio o "Casseta & Planeta Urgente", projeto de sucesso que foi ao ar por gloriosos 18 anos — de 1992 a 2010. Com esta forte lembrança do coletivo de humor mais bem sucedido do País em horário nobre, Helio, enquanto autor e ator, recorda o que veio depois: no ano de 2012, “quando cada um foi para seu lado”, o início de suas stand up comedies; em 2018, a participação no coletivo Coisa de Preto; em 2019, quando se uniu à Comédia em Pé. Em 2022 criou o "Preto de Neve" (uma alusão à Branca de Neve), seu show solo que percorre o Brasil. Nele, Helio afirma de bom humor: “Preto e neve não combinam, tanto que não existe esquimó africano”. Mas não fica por aí: em seu texto ele trata com ironia a política nacional, fazendo um deboche “nesta atualidade chata”. Adictos do tema “casa”, nós da Flo ouvimos também a arquiteta e professora universitária Flavia que, em seu depoimento sobre o lar de Helio e sua família, fala da arquitetura vernacular, e sobre o valor da ancestralidade do espaço que ali encontrou e reformou, utilizando móveis autorais e arte, como na tela Pelé Beijoqueiro, do artista visual Luis Bueno (@buenocaos), um xodó do nosso anfitrião.