Design _ 12 agosto _ por Simone Raitzik

Guto Índio da Costa: Design multidisciplinar sem medo da inovação

O arquiteto e designer carioca inovou ao transformar o escritório de arquitetura criado por seu pai em uma estrutura empresarial interdisciplinar que atua em diferentes áreas.

Capa da publicação em destaque

Em todos os âmbitos da sociedade - de um simples produto de consumo a um aplicativo no celular, incluindo equipamentos urbanos -, a “lente” do design se tornou uma ferramenta fundamental para propor soluções que analisem e incorporem tendências de comportamento. Dentro desse universo, um dos escritórios que mais se destaca por essa atuação múltipla e abrangente é o Índio da Costa A.U.D.T. (arquitetura, urbanismo, design e transportes), com sede no Rio de Janeiro. Reunindo uma equipe de profissionais de diferentes áreas, ele tem a frente - no departamento de design - Luiz Augusto Índio da Costa, o Guto, de 55 anos, que atua lado a lado do pai, Luiz Eduardo Índio da Costa, arquiteto renomado, referência do modernismo e ainda na ativa. “Meu pai sempre foi uma inspiração para mim. Há quase 30 anos, estamos desenvolvendo uma parceria efetiva, trabalhando juntos em vários empreendimentos. Nossas áreas, em muitos casos, são complementares, permitindo uma troca extremamente enriquecedora”, aponta ele. Guto, sempre atento às tendências internacionais do mercado de design, teve sua formação no exterior: cursou o Art Center College of Design, com sede em La-Tour-de-Peilz, na Suíça, seguido por uma pós-graduação em Pasadena, na Califórnia. Com o diploma na mão, integrou a equipe de escritórios renomados na Dinamarca e Alemanha. Em 96, resolveu voltar para o Brasil, com a intenção de criar uma empresa não apenas focada em produto mas, sim, multidisciplinar. “Aqui, tivemos a sorte de começar um núcleo de design dentro de um escritório de arquitetura já estabelecido. E hoje, é exatamente através de uma lente de ‘design thinking’ que a gente pensa a arquitetura, urbanismo e mobilidade. O diálogo é permanente e os resultados, surpreendentes”, revela ele. O primeiro projeto de grande porte que Guto e o pai fizeram em parceria, com grande repercussão, foi o Rio Cidade do Leblon, bairro da zona sul carioca, concluído em 96. A proposta da prefeitura foi implementar uma grande intervenção urbanística, redesenhando o perfil de ruas e avenidas, deixando a paisagem mais “limpa” e organizada. “Criamos ali uma nova concepção para o mobiliário urbano, como pontos de ônibus, bancos, postes de iluminação e canteiros. O resultado foi impressionante: houve uma grande valorização e maior ocupação da área pela população”, lembra Guto. “Inicialmente achamos que seria uma colaboração pontual. Mas, a partir dali, selamos uma parceria sem volta e extremamente bem-sucedida”, reconhece Luiz Eduardo, contemporâneo de nomes como os arquitetos Luiz Paulo Conde e Paulo Casé. “Estudamos juntos na faculdade”, diz. Essa expertise de unir arquitetura, urbanismo, paisagismo, luminotécnica, engenharia de trânsito e mobilidade se transformou, portanto, na marca registrada do Índio da Costa A.U.D.T. Hoje, o escritório acumula vários projetos desse calibre, incluindo o redesenho das orlas de Balneário Camboriú, Charitas (Niterói) e também de Maceió. “Fomos aprimorando o planejamento de cada etapa e, agora, entendemos que é fundamental ter uma maior preocupação com a longevidade, sustentabilidade e facilidade da manutenção dos equipamentos criados para esses projetos”, pontua Guto, que assina também o design do VLT (veículo leve sobre trilhos, lançado em 2016), que liga diferentes áreas do centro do Rio e arredores, incluindo o aeroporto Santos Dumont e a Praça Mauá (zona portuária). “Mudamos a forma de se locomover na região mais antiga da cidade, reduzindo a poluição no ar, sonora, e tornando a circulação, em todos os níveis, mais viável e agradável”, revela ele, autor também de uma gama imensa de produtos com design premiado, de garrafas térmicas a ventiladores, incluindo eletrodomésticos de grande e pequeno porte. “Existe genericamente uma crença que o design torna mais alto o valor de um produto. Mas a verdade é que é justamente o contrário: o bom design assegura um resultado mais inteligente e, na maioria das vezes, infinitamente prático e econômico”.