Design _ 11 julho _ por Simone Raitzik

Jader Almeida: o design sob uma perspectiva humana

Desde cedo o designer entendeu que, aliado à técnica, seu trabalho só faria sentido a partir de uma perspectiva mais humana. E foi buscar inspiração na arte, na arquitetura, na música e na mecânica do movimento corporal.

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Olhar para o mundo de forma generosa, levando em conta uma multiplicidade de referências e inspirações. É assim, como um jovem eternamente curioso, que o arquiteto e designer catarinense Jader Almeida se tornou uma máquina de criação, um profissional completo, obcecado com acabamentos, formas, qualidade e conforto em cada peça que leva sua assinatura. Orgulhoso de ter tido acesso, ainda adolescente, à possibilidade de estudo profissionalizante e à engrenagem de produção da indústria moveleira do sul do país, ele enxerga sua trajetória com a certeza de quem aproveitou o contexto de oportunidades de forma plena, explorando as possibilidades que foram surgindo com total dedicação e comprometimento. “Aos 13 anos iniciei os cursos do Senai, aprendendo tornearia mecânica, elétrica, desenho técnico. Essa base me possibilitou ter um entendimento mais amplo do processo de design como um todo. Em seguida, comecei a trabalhar cedo, o que me fez perceber bem como funciona esse mercado e decifrar, na prática, as várias etapas que compõem a indústria moveleira”, afirma. Aliado à técnica, Jader entendeu também que seu trabalho só faria sentido a partir de uma perspectiva mais humana. E foi buscar inspiração na arte, arquitetura, música e também no comportamento e na mecânica do movimento corporal. “Tudo o que crio demanda um relacionamento, uma troca, uma interação com o ser humano. Por isso, acho fundamental cultivar uma observação plena da época e do mundo em que vivemos, porque sem isso o design acaba sendo reduzido à materialização de uma ideia e fica descontextualizado, sem sentido”, aponta. Entre as referências que moldaram sua carreira, ele cita inicialmente o nome de Joaquim Tenreiro e lembra de uma exposição sobre sua obra que viu, entre 1998 e 1999, em uma galeria de São Paulo. Ali conheceu os biombos, as esculturas e as cadeiras com as linhas esguias e elegantes do mestre. “Nesse momento o design começou a fazer sentido para mim”, dispara. Em seguida, poucos anos depois, conheceu a Lin Brasil, fábrica em Curitiba que detém, em escala industrial, os direitos de produção do mobiliário de Sérgio Rodrigues. “Fui trabalhar por um período ali e, assim, me aproximei ainda mais do traço modernista, que moldou a estética que acredito”, conta. Uma de suas peças mais icônicas - a cadeira Bossa, lançada em 2007 e detentora de vários prêmios de design - reflete essa busca em unir referências do passado, no caso a madeira e a palhinha, com um molde mais contemporâneo. “O sentar de forma confortável é talvez o maior desafio do designer. A Bossa conseguiu aliar forma, estilo e ser completamente adaptada ao corpo, como uma prótese. Virou um clássico”, explica. Aos 44 anos, Jader Almeida hoje vai muito além de uma assinatura. Sua marca autoral se expande de pequenas peças de design à arquitetura de edifícios e contabiliza a comercialização em mais de 30 países, com lojas exclusivas (flagships) em vários estados brasileiros. Sua obra também já conquistou uma infinidade de prêmios, como o IF Design e Red Dot, ao suiço SIT Furniture e Design Award, incluindo o do Museu da Casa Brasileira, onde muitas de suas criações integram o acervo permanente. “Tive sempre a preocupação de pensar o crescimento de forma ampla, abrangendo 360 graus em todos os aspectos, da indústria à comercialização final”. Em plena expansão, ele admite que ainda existem projetos que pretende desbravar, como explorar a água e o ar, ou seja, desenhar barcos e aviões. Em se tratando desse empreendedor nato, não restam dúvidas que o céu não é o limite. “Já comecei a prospectar esse universo. Em breve devo ter novidades”, garante.