Artes _ 05 março _ por Simone Raitzik

Orleans e Bragança: fotógrafo apaixonado por gente

Ambientalista, fotógrafo, empresário, colecionador de arte popular e… surfista nas horas vagas. São inúmeras as definições de João de Orleans e Bragança, mas talvez seu maior orgulho é ser o trineto de Dom Pedro II, bisneto da Princesa Isabel.

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Ambientalista, fotógrafo, empresário, colecionador de arte popular brasileira e… surfista nas horas vagas. São inúmeras as definições de João de Orleans e Bragança, mas talvez seu maior orgulho é ser o trineto de Dom Pedro II, bisneto da Princesa Isabel, e o herdeiro - em plena era republicana - da linhagem da família real brasileira. “Pedro II foi talvez um dos maiores apaixonados pelo Brasil, um humanista que replantou a Floresta da Tijuca, no Rio, para contornar a falta de água crescente na cidade. Naquela época, já tinha total noção da importância de políticas públicas para um país crescer. Um exemplo de caráter e acho que trago no DNA as ideias dele”, se orgulha. Falante, “apaixonado por gente”, João se diz um fotógrafo antropólogo, que busca traduzir em suas imagens o encontro com figuras interessantes, seja no Xingu - para onde já foi algumas vezes clicar as comunidades indígenas -, seja no Arpoador carioca, onde mora com a esposa, a artista plástica Claudia Melli. Sua primeira viagem nada convencional aconteceu em 76, há quase cinquenta anos, quando atravessou meio planeta de carona, em parte a bordo de um navio cargueiro, para chegar em terras remotas como Austrália e Samoa. Ali seu objetivo era surfar nas ondas da Indonésia, já que desde muito jovem era obcecado pela prática do esporte. “Tinha acabado de ler o livro ‘The coming of age in Samoa’, da antropóloga americana Margaret Mead, contando da sua ida para a Polinésia, e fiquei fascinado. Acabei me juntando a um grupo de jovens que, em um barco simples, de madeira, estava a caminho de uma região remota, chamada Gradjagan, numa das extremidades da ilha de Java”, conta. Na volta, animado com o que viu e o que viveu, João começou a fotografar para valer. Já assinou mais de 10 livros, trazendo imagens documentais e, em sua maioria, clicadas em lugares remotos. “Empreendia verdadeiras expedições pelo Brasil, seguindo rotas pouco exploradas. O Piauí, por exemplo, é um lugar que me marcou demais”, conta. O trabalho mais artístico veio quase que por acaso, quando focou a câmera em grafismos captados com uma lente macro e, depois, ampliados em grande formato. Reflexos de barcos na água, em Paraty, desenharam também imagens abstratas, que renderam uma série de fotos expostas em galerias de arte. “Agora, estou com o projeto de juntar 50 anos de fotografia e contar as histórias fascinantes que acompanham cada fase”, explica. Apaixonado por Paraty, que conheceu por conta das propriedades que o pai adquiriu ali nos anos 60, quando não havia luz elétrica e o acesso era precário, João considera que o charme local está na convivência de turistas com os moradores, todos frequentando sem cerimônia as mesmas ruelas calçadas com pedra pé de moleque, no centro histórico. “Esse mix com a comunidade torna esse lugar tão único e especial. Todos nós nos conhecemos e há uma intensa agenda cultural”. Hoje, ele se divide entre o Rio e o casarão tombado onde mora, na rua Fresca, e investe como empresário dos ramos imobiliário e hoteleiro (especialmente nas áreas periféricas, fora da parte preservada). Sua moradia, na beira do mar, reflete, em cada canto, um pouco da sua trajetória, como a impressionante coleção de arte popular brasileira exposta nas estantes, ao lado de quadros e móveis que pertenceram à família real. “Tenho aqui a mesa onde a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, além de vários retratos pintados de membros da família real. Gosto de guardar e preservar esse legado e quem sabe um dia consigo montar um museu com esse meu acervo”, arremata.