Design _ 29 janeiro _ por Silvana Maria Rosso

Luca Nichetto cria pontes entre tradições e inovação

A combinação de fabricação artesanal e industrial do vidro, referências culturais refinadas e atenção aos detalhes são marcas registradas do designer italiano.

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Nascido em Veneza, Luca Nichetto traçou um percurso único no design, fugindo do destino tradicional de muitos profissionais que migram para Milão. Inspirado pela rica tradição vidreira de Murano, ele construiu uma carreira que celebra tanto o legado artesanal quanto a inovação contemporânea. Formado em 1998 pelo Istituto Universitario di Architettura di Venezia (IUAV), Nichetto iniciou em empresas da região como Salviati e Foscarini antes de abrir seu próprio estúdio, o Nichetto Studio, em 2006. Em 2011, deu um passo importante, quando se mudou para Estocolmo e abriu um segundo estúdio, combinando o talento italiano com a modernidade sueca. O Nichetto Studio, desde o início, colabora com marcas globais, expandindo sua influência além da Itália. E nos últimos anos tem contribuído com marcas importantes como Ginori 1735, Cartier, Lladrò, Hermès, entre outras; e se destaca por sua expertise em design industrial, consultoria e direção de arte. A combinação de fabricação artesanal e industrial, referências culturais refinadas e atenção aos detalhes são marcas registradas de seu trabalho, que já o levaram a projetos inusitados como do piano para a grife Steinway and Sons e das coleções de roupas para a marca francesa Manufacture. Para Luca Nichetto, o vidro é uma extensão de sua identidade e história. Nascido em Veneza e criado em Murano, mundialmente conhecida pela produção de vidro artesanal, Nichetto cresceu rodeado por essa rica tradição. Sua conexão com o vidro vai além do aspecto artístico: sua família possui um legado histórico em Murano, reconhecido a nível heráldico. "Na época dos doges, todas as empresas e famílias de Murano tinham um status nobre, criado para proteger os segredos do vidro", conta. Um passeio pelo Museu do Vidro em Murano revela os brasões das famílias, incluindo o da família Nichetto. "Quando vejo algo em vidro, algo feito à mão, sinto imediatamente um tipo de empatia", confessa o designer, cuja trajetória reflete o equilíbrio perfeito entre herança e inovação. Luca Nichetto começou sua trajetória de forma simples, mas marcante: durante as férias em Murano, ajudava sua mãe na decoração de vidros e oferecia seus desenhos às vidrarias locais. Esse hábito continuou até a faculdade, quando seu talento chamou a atenção do diretor de arte da Salviati. Impressionado, o diretor o convidou para colaborar no desenho de moldes. "Eu era um dos poucos em Murano que sabia desenhar no CAD. Sendo de uma geração analógica, era algo que eu não suportava na faculdade, mas acabou se tornando uma virtude", relembra. Após algum tempo na Salviati, recebeu um briefing do diretor, e o resultado foi um dos best-sellers da empresa e, ainda estudante, Nichetto começou a receber royalties por sua criação. Posteriormente, estagiou na Foscarini, empresa de iluminação originária de Murano. Lá, iniciou no escritório técnico e, ao final do estágio, ousou perguntar aos proprietários, Carlo Urbinati e Alessandro Vecchiato, se poderia propor ideias. "Felizmente, eles disseram que sim, e foi assim que comecei a apresentar minhas propostas", recorda o designer. - Luca Nichetto jamais imaginou que desenharia um piano, muito menos que colaboraria com uma das empresas mais renomadas do mundo no setor, a Steinway and Sons. Esse marco inesperado em sua carreira começou com um encontro surpreendente em Nova York, quando o vice-presidente da empresa o convidou para atuar como diretor de arte. Nesse papel, Nichetto convidou profissionais da área no desenvolvimento de novos projetos para os pianos da marca. Paralelamente, ele projetou o Gran Nichetto, lançado em Nova York durante uma apresentação privada, com o renomado Rufus Wainwright ao teclado. "Foi uma emoção que senti poucas vezes na apresentação de um dos meus projetos", confessa Nichetto, demonstrando o impacto especial desse momento em sua carreira. O Gran Nichetto é um exemplo de como o design pode ultrapassar barreiras e criar conexões emocionais profundas. Retornar a Murano após uma carreira global é como "fechar um círculo". Ao colaborar com a histórica Barovier & Toso, com quase 900 anos de legado, ele contribui para a tradição vidreira da ilha, reafirmando suas raízes e sua profunda conexão com Murano. Outra colaboração marcante de Nichetto foi com a Ginori 1735, renomada fabricante toscana de porcelanas. Ele idealizou uma linha de velas e aromatizadores inspirada na comitiva de Catarina de Médici, que levou o conhecimento dos perfumes italianos para a França. Essa parceria abriu caminho para Nichetto assumir o papel de diretor de arte da linha de móveis Domus, expandindo o catálogo da empresa. Quando questionado sobre suas inspirações, Nichetto explica: "Designers usam o cérebro como um disco rígido onde coletamos informações. Quando recebemos um briefing, essas informações se conectam magicamente, e isso nos dá uma ideia. Você canaliza e cria."