Maria Clara Gueiros: humor de igual para igual
Ela faz parte de uma geração de mulheres no humor brasileiro, com talento de sobra para fazer graça, que se tornou referência nos últimos anos, dividindo o protagonismo com expoentes masculinos.
Maria Clara Gueiros descobriu a vocação para atriz de forma intuitiva, quase por acaso. Quando jovem, adorava sapatear, hobby que praticava paralelamente à faculdade de Psicologia. Foi no momento em que surgiu a oportunidade de fazer parte do elenco de uma primeira peça, o musical “Na cola do sapateado”, que percebeu que, além de dançar, tinha talento para atuar. “Quando me chamaram para entrar nessa montagem, fui bem clara avisando que não sabia falar no palco, que era psicóloga, e meu negócio era só sapatear. Eles insistiram, eu resolvi abrir a boca, e deu no que deu”, brinca. A veia bem-humorada é uma constante no papo com Maria Clara, que acaba de completar 37 anos de carreira e está em cartaz na peça “Agora que são elas”, com direção de Fábio Porchat, e também na dublagem de Lucy, do filme “Meu malvado favorito 4”. “Terminei o mestrado em Psicanálise, na PUC do Rio de Janeiro, mas logo percebi que meu caminho era outro. Tinha virado atriz. E essa minha trajetória, seja no teatro, televisão ou cinema, me traz um prazer imenso”, afirma. Quando finalmente assumiu a carreira de atriz, Maria Clara sentiu falta de uma formação mais completa e procurou as aulas de teatro no Tablado, no Rio, incentivada pelo escritor e roteirista Bernardo Jablonski, seu namorado na época - com quem casou e teve dois filhos. “Bernardo era um dos donos do Tablado e me deu a maior força. E, a partir dali, entrei de cabeça nesse mundo do teatro”, revela. O humor, marca registrada do seu trabalho, foi uma descoberta que veio em seguida, também de forma natural, “Verdade é que cresci em uma família muito engraçada, com quatro irmãos homens. O humor era um denominador comum entre nós e, na faculdade, percebi que eu tinha o timing da piada solta, improvisada. Era só abrir a boca e todos começavam a rir. Acho que é um talento, um dom que nasceu comigo”, diz ela, que se tornou nacionalmente conhecida, em 2004, por suas tiradas de efeito como “Vem cá, te conheço?”, que criou para a Laura, personagem do humorístico “Zorra Total”, da TV Globo. “Esse bordão foi ideia minha e pegou de um jeito impressionante”, revela. “Depois, outro papel marcante foi o de Bibi na novela ‘Insensato Coração’, um presente que Gilberto Braga, autor da trama, me deu”, Entre as referências que formaram seu repertório no humor, Maria Clara cita os clássicos sitcoms americanos "Seinfeld" e "Friends", que assiste até hoje nas horas vagas. “Sabe que não me canso das mesmas piadas? É uma forma de estudar com os mestres”, se diverte. No Brasil, sua escola foi o Besteirol dos anos 90, com esquetes, cenas curtas, lançado por Pedro Cardoso, Luiz Fernando Guimarães, Patrícia Travassos, Fernanda Torres, Débora Bloch, Miguel Falabella e toda a trupe da "TV Pirata". “É bem dessa fonte que eu bebi. Um humor meio jogado fora, não é muito preparado, quase sonso. A sensação de quem assiste é que é algo natural e você não está representando, passa uma certa ironia. Acho que é assim que definiria o meu estilo”, conta ela. Contemporânea de nomes como Heloísa Perissé, Ingrid Guimarães e Mônica Martelli, todas amigas próximas, Maria Clara entende que faz parte de uma geração de mulheres que se destacaram, como protagonistas, nesse universo do humor. “Acho que quebramos muitos paradigmas, sabe? Antigamente, a mulher nesse meio ficava em segundo plano, era a bonitinha burra, gostosona, meio lesada. Ou a feia que o marido sacaneava. Acho que conquistamos um espaço importante na cena cultural, em todos os meios. E isso veio para ficar”, arremata.