Marina Klink: "Não precisa ir muito longe para estar em contato com a natureza"
Sob a inspiração do velejador e companheiro de vida Amyr Klink, Marina se dedica à carreira de fotógrafa de natureza, registrando paisagens remotas de diferentes destinos.
Quando Tamara e Laura, gêmeas, e Marina, filhas de Marina e Amyr Klink, tinham 8 e 6 anos, a família partiu para uma viagem que transformou a vida de todos. Na época, Marina, acostumada às idas e vindas do marido, que se distanciava com frequência em grandes períodos de navegação pelos pólos, decidiu que, nas próximas férias, a família toda iria acompanhá-lo, em uma temporada na Antártica. “Percebi que era hora de participarmos mais do mundo do Amyr, entender as paixões e o universo que tanto o encantavam. Ele já tinha cruzado a remo o Atlântico, tinha dado a volta ao mundo passando pelos dois pólos e feito a invernagem na Antártica por meses. Eu sempre incentivei todos os projetos, mas dessa vez iríamos juntos e, para as crianças, seria uma grande aventura, algo marcante”, revela ela. Foi assim que os cinco saíram nessa expedição de dois meses, em que Marina aproveitou para cobrar que meninas fizessem diários de bordo, escrevendo ou desenhando, mas registrando a experiência sob o olhar de uma criança. Para acompanhá-las, fotografava o dia a dia da viagem, como um álbum de recordação. “Entendi que era a forma de eternizar o primeiro encontro delas com os pinguins, a caminhada no gelo, a rotina divertida no barco, os medos, as descobertas”, conta. Em uma das subidas do mastro do veleiro, de 33m de altura, para conseguir um ângulo inusitado, ouviu de Amyr que ali era perigoso e que deveria descer, “porque essas fotos eram inúteis e não serviriam para nada”. O desaforo do marido soou como um alerta. A partir daí, Marina resolveu mudar de vida: fechou a empresa de produção de eventos que pilotava há quase 30 anos e passou a se dedicar à carreira de fotógrafa de natureza, registrando paisagens remotas. “As imagens que clicava passaram, assim, a ter um sentido e servir para alguma coisa. Agradeço ao Amyr porque o comentário, que soou agressivo, se tornou o estopim de uma nova etapa na minha vida”, revela. Quando jovem, Marina pensou em ser bióloga, mas acabou cursando Comunicação, na Faap, em São Paulo. Formada, seguiu uma bem-sucedida carreira de “promoter”, produzindo eventos para grandes empresas por cerca de 30 anos. Foi assim que ela conheceu Amyr, quando ele - após cruzar o Atlântico a remo - foi convidado para dar uma palestra em um encontro que ela organizava para a Johnson & Johnson. Ambos velejadores - desde os 9 anos ela pilotava um Optimist e participava de regatas -, descobriram uma paixão comum: o mar e Paraty, onde ele tinha casa. Anos depois, estavam casados. “Em vez de uma aliança, Amyr me deu um canivete suiço, porque achava bem mais útil que um anel”, conta, em tom de brincadeira. Essa sintonia de interesses, humor e estilos de vida é o ponto alto da relação deles, além de ambos cultivarem total liberdade para batalhar seus próprios projetos, sem cobranças. “Amyr sempre foi um viajante, envolvido com grandes navegações, e se eu resolvesse mudá-lo, nossa relação não teria futuro”, atesta ela, que se define como uma fotógrafa profissional, com vários livros no currículo: “Antártica, A última fronteira”, “Antárctica, Olhar Nômade”; “Contravento”, além de publicações que fez em parceria com as filhas, como o “Férias na Antártica”, lançado após a volta da primeira viagem com as meninas, e “Vamos dar a volta ao mundo”, destinado ao público infantil e infanto-juvenil. Atualmente, Marina organiza expedições para áreas remotas, levando grupos para países como Islândia, Noruega e Groenlândia. “Viajar é parte do meu trabalho e essas temporadas são verdadeiras e necessárias experiências imersivas”, resume. Recentemente, Marina se viu às voltas com o desafio de aceitar as travessias solitárias da filha Tamara, hoje com 27 anos, que decidiu se inspirar nos passos do pai e empreender, por oito meses, uma invernagem na Groenlândia, com seu veleiro Sardinha 2, depois de já ter também cruzado o Atlântico. “Foi muito complicado aceitar a ideia da Tamara, mas eu e Amyr somos a favor de incentivar as meninas a irem atrás dos sonhos e enfrentar seus medos, desde que haja preparo e responsabilidade. Sofri e me preocupei muito com essa opção dela, mas hoje só podemos aplaudir o quanto Tamara foi empreendedora e corajosa”, arremata Marina.