Arquitetura _ 29 novembro _ por Silvana Maria Rosso

Mario Cucinella: sem medo de usar o instinto

Confiante em seu instinto, o arquiteto italiano é especialista em projetos que integram estratégias ambientais e energéticas, interiores, pesquisa e desenvolvimento.

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O Sul da Itália é solo fertil de profissionais criativos. É o caso do arquiteto Mario Cucinella, nascido em 1960, em Palermo, na Sicília. Como a maioria dos jovens, ele deixou a terra natal nos anos 80 para cursar arquitetura. Na Universidade de Gênova, encontrou mestres como Renzo Piano, com quem trabalhou por quase cinco anos, como responsável de projeto. Durante o período que atuou com Piano, aprendeu que “se você confia no instinto também faz escolhas acertadas”. Confiando em seu instinto, deixou o escritório de Piano, que também tinha sede em Paris, na França, fundando seu estúdio na Cidade Luz, em 1992. Em 1999, voltou para a Itália, transferindo-se para Bolonha. Hoje, MCA - Mario Cucinella Architects - está sediado também em Milão e conta com equipe de 100 profissionais. Especialista em projetos de arquitetura que integram estratégias ambientais e energéticas, o MCA tem obras espalhadas pelo mundo, até mesmo no Brasil. O trabalho de Cucinella vem ganhando destaque dentro e fora da Itália, sendo reconhecido pelo International Fellowship de Royal Institute of British Architects (2016) e Honorary Fellowship Dell’American Institute of Architects (2017) e recebendo diversos prêmios. E este ano foi comissionado para projetar o pavilhão da Itália na Expo 2025, em Osaka. Durante a conversa com FLO Magazine, o arquiteto Mario Cucinella confessa que sentiu a necessidade de sair do estúdio de Renzo Piano para traçar seu próprio caminho. Durante o período de autoquestionamento sobre o que sabia fazer sem seu mestre, reconheceu em si a capacidade de lidar com as inovações, o que se pode notar na forma como o seu escritório é estruturado. Além das áreas de arquitetura e design, o MCA possui um departamento interno R&D (pesquisa e desenvolvimento), que analisa as tendências do setor imobiliário com especial atenção à sustentabilidade. O MCA colabora com a SOS - School of Sustainability Foundation -, escola fundada por Cucinella em 2015 com o escopo de dotar os estudantes de ferramentas apropriadas para abordar as questões ambientais. Com a bagagem de mais de quase 40 anos, Cucinella busca recuperar as raízes da arquitetura, ou seja, encontrar soluções que priorizem a relação entre o ambiente construído, o entorno e os recursos naturais. “Vivemos em um mundo que não há nada de sustentável. Quando não confiávamos tanto na tecnologia, éramos bons, construíamos edifícios em lugares extremos com soluções maravilhosas. Estamos reaprendendo a projetar”, ressalta. Dessa busca nascem projetos inovadores como Tecla, uma casa idealizada para se adaptar ao clima do local onde está inserida, e estampada em 3D com terra. “Consumimos muito, desperdiçamos demais, entramos em uma lógica inversa. sustentabilidade é uma palavra que inventamos nos últimos dez anos, porque temos a necessidade de contar uma história que, muitas vezes, é uma fábula”, pondera. Suas reflexões sobre os desafios ambientais e energéticos estão registradas em livros, como “Building Green Futures” e “Il futuro è un viaggio nel passato. Dieci storie di architettura”, e em projetos mais ousados como “Design With Nature”, mostra dedicada à economia circular, apresentada no Salão do Móvel em 2022, em Milão. O vídeo “A cidade é uma mina”, parte da instalação, mostrava como as cidades podem ser fontes de materiais para novas construções e atender as diretivas europeias para os próximos anos. Uma das exigências é que as edificações possam ser desmontadas e reinseridas no processo produtivo, a exemplo do jardim da infância Iride, na Régio Emília, construído com peças de madeira que podem retornar ao ciclo da madeira. Enquanto a Torre Unipol é um exemplar da arquitetura como contribuição para o consumo inteligente dos recursos naturais, respondendo a outra diretiva ambiental europeia. Cucinella mostra afeto especial pelo projeto da Nice, realizado no Brasil. Trata-se da planta fabril da líder mundial no setor de automação, segurança e controle de acesso, em Limeira, no interior de São Paulo, cujos proprietários solicitaram atenção para a questão ambiental. O objetivo do projeto supera a ideia de um espaço produtivo fechado e compacto, criando máxima abertura e permeabilidade de modo a dialogar com a paisagem e a comunidade. “O que me interessa sempre mais é o impacto que o edifício tem na vida das pessoas. Gosto muito dessa ideia do que gera um edifício depois de construído”, revela. Para ele, hoje há a ditadura da estética: “Um edifício não é feito só para ser visto, mas para ser vivido.” Para finalizar, Mario Cucinella destaca algumas obras recém-finalizadas, como o hospital San Raffaele, em Milão, e o museu da Fundação Rovatti, no qual o escritório fez um projeto total, da maçaneta ao corrimão. Ele conta que o escritório também projeta espaços muito pequenos, como uma bilheteria em Agrigento, na Sicília. “Não é porque crescemos que gosto de fazer só projetos grandes. Mas gosto de trabalhar em projetos menores. Essa é a nossa cultura, de se ocupar, então, de tudo, do pequeno detalhe à grande escala. Esse é o nosso trabalho”, finaliza. - Imagens: Rafa Jacinto, Arquivo MCA, Giovanni De Sandre, Moreno Maggi, Federico Villa, Zup Design, Iago Corazza, SOS -School of Sustainability -, Marco Garofalo, Engran Studio, Adriano Pacelli, Michele Olivieri, Duccio Malagamba.