Moda _ 28 setembro _ por Silvana Maria Rosso

Setembro, o mês da moda internacional

Por tradição, setembro é o fashion month. E Milão, a capital da moda italiana, abrigou a Semana Feminina da Moda com a realização de 62 desfiles presenciais e cinco digitais, 76 apresentações e 33 eventos, além de projetos colaterais, mostras e compromissos imperdíveis.

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No desfile da Fendi, a estilista inglesa, Kim Jones, mostrou que a inspiração pode vir até de um passeio. Ela revela que "tudo começou com uma caminhada por Roma". Quando está na cidade, ela vai a pé do hotel para o trabalho, escutando em seus fones de ouvido a música usada como trilha do show. Na coleção primavera/verão Fendi, Kim Jones convida para um passeio por Roma, percorrendo entre o antigo e o novo, entre palácios barrocos e ruínas arqueológicas. Cornijas descascadas transformam-se em faixas largas que caem da cintura para baixo, os cortes repentinos aparecem sob as golas de cintura doce dos vestidos de malha longos e estreitos, ou as aberturas nas costas dos conjuntos duplos, representando as rachaduras das paredes antigas. Mesmo predominantemente frias, as silhuetas marcadas por azuis e cinzas gelados, ocasionalmente aquecidos pelo laranja suave, amarelo ou marrom, mantêm a graciosidade. Vestidos ora são estruturados em malhas táteis, ora revestem o corpo em seda. A alfaiataria é generosa, com bordas arredondadas para uma curva suave. As bolsas com curadoria da diretora Silvia Venturini Fendi alinham os clássicos de todos os tempos, do Peekaboo às Baguettes, do Origami às Firsts, numa reiteração de patrimônio persistente. Kim Jones afirma que esta é uma coleção casual wear: “É roupa para usar de dia.”

Fendi, um passeio ocasional por Roma

Fendi, um passeio ocasional por Roma

Foto Launchmetrics/Fendi

A coleção primavera/verão 2024 Prada exibe na Milanoy Fashion Week um novo mundo de fórmulas de roupas, repleta de justaposições que aparecem ora duras e ora suaves. Um show impregnado de rebeldia e coragem durante uma temporada em que o minimalismo domina as passarelas. O desfile abre com shorts estreitos de cintura alta e cinto de saco de papel, combinando com jaquetas e lenço jogado sobre o ombro, feito uma meia capa. Na sequência, entram vestidos transparentes em tons pastéis - de aparência líquida. A coleção firma-se no movimento, transparecendo nas mangas grandes que contrastam com pequenos cintos de couro. Os detalhes dizem tudo. Cintos com franjas prateadas e douradas. Vestidos fiados com franjas, ilhoses e miçangas. E motivos das décadas de 1920 e 1940, como coletes utilitários revestidos com cristais brilhantes. Silhuetas formais, emprestadas do vestuário masculino, são repensadas em formas arquitetônicas que reconsideram os perfis arquetípicos do rigor formal. Feitos com materiais icônicos da marca, bolsas e sapatos são embelezados com o uso de couros finos. A bolsa criada em 1913 por Mario Prada, avô de Miuccia Prada e cofundador da maison, originalmente proposta em seda moiré, é recriada em napa e re-nylon com fecho de moldura e figura mitológica esculpida artesanalmente. Viajante curioso, Mario Prada explorou o mundo em busca de objetos e materiais preciosos que foram reunidos em peças únicas de luxo, deixando um precioso legado.

Prada: detalhes que dizem tudo

Prada: detalhes que dizem tudo

Foto Divulgação

Max Mara acompanha a tendência bucólica da estação, apresentando a nova coleção à sombra de um jardim secreto durante a Milano Fashion Week Woman 2024. O diretor criativo Ian Griffiths imagina uma nova paleta feita de azuis intensos, verde escandinavo, rosa brilhante, com toques de preto e branco, deixando espaço para o icônico camelo da casa, claro! Numa versão workwear, o ponto de partida do desfile da coleção 2024 é o Women's Land Army, organização civil britânica graças a qual as mulheres, na década de 1940, se reuniam para trabalhar a terra e alimentar a nação. O look britânico também é apresentado numa versão mais sofisticada para a noite, em gabardine ou camisola para o dia. Os protagonistas são os micro shorts, para serem usados com atitude masculina ou extremamente feminina, de dia ou de noite. O clima do show é elegante mas discreto, chique mas sedutor.

O jardim secreto de Max Mara

O jardim secreto de Max Mara

Foto Divulgação

O desfile da Gucci, um dos eventos mais aguardados da Semana da Moda de Milão, é marcado pelo debut de Sabato De Sarno, o novo diretor criativo da marca. O estilista escolheu as ruas do entorno da Academia de Arte de Milão para sua estreia e para apresentar Gucci Prospettive N.1, Milano Ancora, e reiterar sua ligação com a arte, que regressa com uma exposição de jovens artistas e um volume que é uma carta de amor à cidade da moda. Há 20 anos no mundo da moda - passou por Prada, Dolce & Gabbana e Valentino -, Sabato De Sarno cobriu toda a cidade com o slogan "Ancora", da sede da grife até os edifícios e bondes. De Sarno explica antes do show: “Ainda significa muitas coisas. Significa 'de novo', mas também é mais pessoal; não é algo que você perdeu, é algo que você ainda tem, mas você quer mais, e isso te faz feliz".Com essas afirmações, o estilista revela seu maior objetivo: “Quero que as pessoas se apaixonem pela Gucci novamente”. Em sua primeira coleção, De Sarno toma como referência o arquivo dos anos 1990 e 2000 da marca. A coleção conta uma história que nasce da alegria de viver: «É uma história de objetos – brilhantes, frios ao toque, quentes na alma e no coração. Objetos atraentes e colecionáveis, não para um museu, mas para serem usados na vida cotidiana."

Gucci: a estreia de Sabato de Sarno

Gucci: a estreia de Sabato de Sarno

Foto Divulgação

O primeiro capítulo da era Tom Ford sem o seu fundador inicia-se nada mais nada menos que na Itália, onde o designer texano, fundador da grife, alcançou fama mundial. Apresentada na Milano Fashion Week, a coleção primavera/verão 2024, criada por seu sucessor, colaborador histórico e braço direito de Ford, Peter Hawkings, está de acordo com o legado da marca. Sensualidade, corpos expostos, linhas justas e decotes ousados. Na coleção primavera/verão 2024 de Tom Ford estão todos os pilares da filosofia estilística do designer que revolucionou a moda feminina entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000. O que parece ser, para todos os efeitos, um dos maiores sucessos do repertório do designer americano, é fruto dos ensinamentos transmitidos por ele ao seu colaborador de mais de 20 anos. Hawkings revela uma coleção glamourosa e selvagem. Há calças justas, maxi vestidos, shorts curtíssimos, todos confeccionados com tecidos leves e transparentes, mas também em couro ecológico. Tops estilo hippie e muitas peças de malha, sempre perfeitas para o verão que, no universo Ford, revelam a pele nua. Além da alfaiataria impecável dos inúmeros looks de ternos masculinos e femininos com o inconfundível estilo Ford da era Gucci. Em materiais que fazem parte do repertório, do cetim de seda ao veludo.

Tom Ford agora por Peter Hawkings

Tom Ford agora por Peter Hawkings

Foto Launchmetrics.com/spotlight

A mulher Versace se redescobre mais como uma boneca do que como uma diva, poderosa e sexy no desfile da Semana de Moda em Milão. Em seu guarda-roupa, uma série de ternos de tweed em tons pastéis, micro vestidos sem mangas com bordas de pedras, casacos bon ton, conjuntos duplos de malha bordados. Além de acessórios de cabelo chiques, bailarinas de cetim étoile e bolsas que imitam pequenas sacolas. A estampa xadrez é a base do mix de peças chiques, motivo icônico lançado pela marca na primavera-verão de 1982, disponível em tons pastéis de azul, rosa e amarelo. O resultado é um guarda-roupa sofisticado e, ao mesmo tempo, jovem, moderno e divertido. Mas, o ponto alto do show da Versace, que traz para a passarela looks masculinos, é o encerramento com a entrada de Claudia Schiffer, envelhecida como um bom vinho. Um déjà vu do padrão gráfico xadrez, no mesmo verde menta, que ela usou no desfile para a alta costura de 1995 da coleção Medusa da grife. Um top e uma saia drapeada hoje transformados em vestido de malha sinuosa de metal, um casamento entre arte e tecnologia à la Versace. "Esta coleção é alegre e ousada. A mulher Versace é livre e vibrante”, afirma Donatella Versace.

O estilo boneca de Versace com Claudia Schiffer

O estilo boneca de Versace com Claudia Schiffer

Foto Divulgação

Ferragamo apresenta na Semana de Moda de Milão uma coleção que equilibra compostura e liberdade. “Queria que cada elemento da coleção parecesse muito mais leve, não só pelos tecidos e construções, mas também pela correspondência com a forma como as pessoas realmente querem se vestir”, Maximilian Davis apresenta o desfile Ferragamo, montado com alas de tecido transparente de cor clara que pontuam o maxi room em diversos ambientes arejados e claros. A coleção Primavera Verão 2024 Ferragamo parte de uma escolha curada de tecidos, onde os simples linhos e algodões se combinam com elegância e rigor, acoplados aos cetins das capas ou tratados para assumirem o aspecto de couro. O guarda-roupa combina a herança italiana da maison com toques caribenhos (especialmente nos acessórios como os corpetes-cintos em maxi lantejoulas em couro e madeira polida ou as cunhas com saltos de madeira chanfrados e decorações coloridas iguais aos colares e F dourado como puxador de zíper) do estilista. Quanto aos vestidos diurnos com ou sem decote profundo, usados sobre botas altas de couro envernizado, em shorts masculinos curtíssimos com influência do loungewear, em camisetas torcidas como se tivessem sido usadas em velocidade. “O fetichismo está inerente ao DNA do meu trabalho: há algo de muito moderno em querer incorporá-lo no cotidiano e no guarda-roupa”, confessa.

Ferragamo: DNA italiano e toques caribenhos

Ferragamo: DNA italiano e toques caribenhos

Foto Launchmetrics.com/spotlight

Entre rigor e sensualidade, Dolce & Gabbana confirma o desejo de voltar às origens: transparências, rendas finas, roupas íntimas, alfaiataria, formas, proporções, preto e branco, tecidos impecáveis: esses são os elementos-chave da coleção Mulher, de Dolce & Gabbana, apresentada durante a Milano Fashion Week, a semana de moda milanesa. Livre de preconceitos, o show mostra uma fusão estética entre sedução e castidade, uma profusão de encanto e feminilidade misteriosa, um universo que dialoga com o imaginário da antiga Sicília. O título “Mulher” foi escolhido para realçar as mil facetas do sexo frágil, numa história de diversidade, inclusão e liberdade. Um elenco de supermodels que vai de Vittoria Ceretti a Maria Carla Boscano, passando por Irina Shayk e Natasha Poly. E, para fechar o show, Naomi Campbell, esplêndida aos 53 anos, com vestido de tule, lingerie rigorosamente à mostra, gerando aplausos estrondosos. Se Naomi é a prova de que as criações da D&G podem ser para todas as idades, a presença da modelo Ashley Graham, ícone da moda curvada, é a prova de que também pode ser para todos os tamanhos.

Dolce & Gabbana: sensualidade e inclusão

Dolce & Gabbana: sensualidade e inclusão

Foto Launchmetrics.com/spotlight

Revestido com azulejos coloridos que compõem elementos marinhos ou paisagens reduzidas ao mínimo, o espaço onde o show da Bottega Veneta dialoga com a coleção apresentada na Milano Fashion Week, ou simplesmente a semana de moda de Milão. Uma Odisseia, uma longa viagem de regresso ao alto artesanato, destino mais explorado pelo diretor criativo, Matthieu Blazy, onde os palcos se transformam em experiências para um guarda-roupa transformador, ora exótico, ora urbano. Quente ou frio, uma coleção cada vez menos sazonal, conforme ditam as alterações climáticas. Entre vestidos construídos com babados que lembram grandes ostras, franjas de couro como penas e sapatos esculturais com reflexos dourados ou prateados. Os acessórios são oversized, como algumas jaquetas e casacos. Muitos casacos, porque as estações se misturam, um verão longo, materiais leves, mas também espinha de peixe e tecidos lanosos que protegem do frio. Notória e atual, a longa série de calçados, que vai desde botas de tecido até mules com grande e sensual decote em V. O setor bag decola com estilos novos e antigos, do balde de balança ao cesto, até uma nova versão de sardinhas com cabo de chifre.

Bottega Veneta e sua odisséia imaginária

Bottega Veneta e sua odisséia imaginária

Foto Launchmetrics.com/spotlight

Para comemorar o 40º aniversário da Moschino, quatro amigas da Maison foram convidadas a criar uma coleção inspirada nos designs icônicos de Franco Moschino, de 1983 a 1993. Dividido em quatro atos, o show da grife na Semana de Moda de Milão apresenta o olhar de cada uma das estilistas. O primeiro ato começa com Carlyne Cerf Dudzeele que faz a releitura das peças clássicas mais queridas de Franco. Um retrato chique, fresco, discreto, mas divertido, de suas afinidades com o trabalho de Franco Moschino. Carlyne pega uma famosa lista de itens essenciais do guarda-roupa, compilada por Franco no início de sua carreira, a reformula de acordo com o seu estilo, respondendo a uma pergunta atualmente inquietante: “O que é um clássico hoje?” No segundo ato, é a vez de Gabriella Karefa-Johnson: “Apoiei-me muito na ideia de recriar e mudar os estilos dos desfiles do início dos anos 90 para atualizar a silhueta, mas ainda queria que essa energia permanecesse intacta com força total." Gabriella imaginou os chapéus de cowboy, os brincos enormes e os vestidos de crochê, característicos de Franco, com seu olhar extraordinário e excêntrico para texturas, trazendo um novo giro, uma nova sensibilidade e apropriando-se dos elementos para transformá-los em criaturas suas, como ensinou o fundador da Maison. No terceiro ato, Lucia Liu recorre ao romantismo e à feminilidade, encontrados na obra de Franco. Ela mistura os elementos dos pilares da moda de Moschino para criar uma nova abordagem conceitual. Puro e etéreo, rodeado por uma alfaiataria ousada e confiante. A camiseta “Protect me from the Fashion System” de Franco é firmemente colada no painel de humor de Lucia Liu. No último ato, Katie Grand explora a essência do trabalho de Franco Moschino, aplicando suas ideias ao presente. "Seu uso de slogans foi profundamente atraente e a ideia de criar um novo e chamá-lo de Loud Luxury me ocorreu imediatamente", ressalta. "Vivemos rodeados de uma cacofonia, um lugar onde todos lutam para serem ouvidos em muitas plataformas o tempo todo. É possível explorar a ideia de luxo através de um megafone? Será que o bom gosto consegue resistir a todo esse barulho?", questiona.

Moschino em quatro atos

Moschino em quatro atos

Foto Launchmetrics.com/spotlight

«Vibes» é o título da nova temporada de Giorgio Armani. O estilista traduz essas vibrações em cores, movimentos, ondulações e brilhos. A coleção primavera/verão apresentada na Milano Fashion Week é cheia de efeitos especiais e cores que vibram. Uma paleta que evoca as profundezas do mar e da natureza, em variações cromáticas que aparecem em linhas suaves e criações sedutoras, refletindo e refratando a luz de forma intensa. A coleção parte da terra, que se materializa em looks com tons arenosos, para se libertar na imensidão do céu e nas profundezas do mar. Os cabelos são inspirados nos anos 30. A elegância sublime e espontânea também prima pela praticidade e conforto. As peças são leves, o calçado é macio, baixo e amarrado. O terno feminino vem com jaqueta curta sem gola e calças de cintura alta. A cada look são adicionados acessórios exclusivos, joias ousadas. O abismo torna-se cada vez mais profundo, o verde e o azul dão lugar ao azul noite. Os cristais estão por todo o lado, sob pequenos casacos de seda, tops, blusas mas também sob túnicas, camisas compridas e vestidos-avental de tule. Armani fecha a Semana da Moda com maestria e classe.

Armani: chique e vibrante

Armani: chique e vibrante

Foto Launchmetrics.com/spotlight