Música _ 22 setembro _ por Mauro Ferreira

Ayrton Montarroyos se consagra como grande cantor à moda antiga

Aclamado por ícones da MPB, artista promove álbum arrojado, “A lira do povo”, celebra a rica educação musical recebida da avó, agradece a fidelidade do público e reitera a opção por trilhar caminho distanciado dos modismos do mercado.

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Ayrton Montarroyos brinca dizendo que já nasceu com 90 anos. Quem conhece os gostos musicais deste jovem cantor pernambucano, nascido no Recife (PE) em 1995, sabe que o gracejo faz sentido. A alma musical do artista desmente os 29 anos completados em junho. Enquanto a geração dele dança ao som da pisadinha e acompanha as playlists de trap, Ayrton Montarroyos é capaz de chorar ao ouvir um disco de Dalva de Oliveira, cantora da era do rádio. Esse bem-vindo descompasso entre o gosto musical do artista e as preferências do mercado e da própria geração tem jogado a favor de Ayrton Montarroyos. Veteranos consagrados da MPB já o consideram um senhor cantor. Em 2023, Edu Lobo o convidou para participar do show e do disco dos 80 anos do compositor. Neste ano de 2024, Alaíde Costa quis dividir o palco com Ayrton no show em que a cantora abordou o repertório do álbum “Domingo”, lançado em 1967 por Caetano Veloso e Gal Costa. A colheita se estende ao álbum lançado por Ayrton Montarroyos em junho, “A lira do povo”, disco arrojado que alinha 26 composições em três suítes temáticas. O álbum tem sido celebrado pelos críticos e pelo público que lota os shows feitos pelo cantor, sobretudo em São Paulo (SP), cidade onde debutou no mercado fonográfico aos 16 anos para gravar música em disco em tributo ao centenário de Luiz Gonzaga (1912 – 1989), a convite do produtor Thiago Marques Luiz, hoje empresário de Ayrton. “Embora seja um trabalho completo, intrincado, ‘A lira do povo’ tem me dado alegrias. Meu público tem visto meu desenvolvimento artístico e tem me apoiado em cada projeto que faço”, festeja Ayrton. “Você pode até não gostar do cantor, mas, se você gosta de Música Popular Brasileira, não pode dizer que o disco é ruim”, sentencia o artista. Filho de mãe que lhe deu à luz aos 23 anos, Ayrton Montarroyos gosta de Música Popular Brasileira muito por conta da educação musical recebida da avó que o criou, Célia Montarroyos. Dona Célia começou a trabalhar com música em 1965, tendo sido funcionária da Rozemblit, lendária gravadora do Recife (PE). Uma das funções de Célia na longa atuação no mundo da música era decidir quais os LPs que seriam comprados para distribuição no mercado fonográfico do Nordeste do Brasil. “Era da minha avó que vinham as histórias de como aquelas gravações tinha se dado, de quem eram aqueles artistas e qual era a importância daqueles artistas no cenário nacional. Minha avó me guiava muito nessa área. Eram bons papos”, lembra Ayrton, que ainda conversa cotidianamente com a avó sobre música, agora via whatsapp, já que ele mora em São Paulo e ela vive no Recife. Dona Célia se emocionou quando, há nove anos, viu o neto ganhar projeção nacional ao participar do programa “The Voice Brasil”, da TV Globo, (con)sagrando-se vice-campeão na edição de 2015 do talent show da emissora mais vista do Brasil. “O ‘The Voice Brasil’ me deu essa cama pronta, mas, depois, eu tive que batalhar muito, às minhas custas, para fazer isso valer e virar alguma coisa”, ressalta o cantor. A parceria com a TV Globo se estende até hoje. Ayrton Montarroyos volta e meia é convidado para gravar músicas para as trilhas de novelas da emissora, como “Quanto mais vida, melhor!” (2021 / 2022) e “No rancho fundo” (2024). “Por mais que a gente saiba da força da internet e dos meios alternativos, a televisão ainda é o canhão das massas”, sublinha Ayrton. Artista de temperamento indomado, o cantor tem consciência de que as massas hoje têm acesso limitado às obras de arte. “Não traço rotas pensando em sucesso ou fama. Por isso, me sinto bem e mal por ser um artista independente. Bem, por desfrutar da liberdade da criação artística. Ninguém manda em mim. Por outro lado, é triste que a gente não tenha mais as gravadoras multinacionais injetando dinheiro em obras de arte. O mercado musical de hoje reflete o tempo que a gente vive. E as pessoas não se interessam mais por obras de arte”, pondera. Firme e convicto dos caminhos trilhados em nome da música, Ayrton Montarroyos celebra as conquistas. “Me apego muito à realidade do tamanho do artista que sou. Me sinto grato pelo público que corajosamente vai me assistir. É um público respeitoso que se alinha com meu pensamento e que se espelha em mim. Até aqui, 15 anos depois do meu início na música, acho que fiz a melhor escolha”, comemora Ayrton Montarroyos, o grande cantor de alma antiga.