Artes _ 15 dezembro _ por Simone Raitzik

Mucki Botkay: tapeçarias repletas de movimento, texturas e cores

A artista visual carioca cria obras de grande formato, trazendo, em sua maioria, imagens da natureza: matas, flores, plantas que habitam seu imaginário e são itens fundamentais na sua essência estética.

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Foi ainda adolescente, no colégio interno, na Suíça, que a artista plástica Mucki Botkay, nascida e criada em Ipanema, no Rio, conheceu pela primeira vez o universo mágico dos pintores impressionistas, nas imagens apresentadas nas aulas de História da Arte. As cores fortes, que tingiam as telas de Matisse, Renoir e Gauguin, entre outros, ficaram gravadas na sua memória como referências pictóricas, que nortearam e inspiraram, mais a frente, sua trajetória profissional. Mucki, em seguida, foi estudar Artes Decorativas em Genebra (Centre d'Études Classiques ) e lá teve certeza que a arte seria um caminho sem volta. “Foram três anos de curso, uma grande experiência em todos os sentidos. Entendi, ali, que desenhar e pintar seriam parte fundamental do meu universo, que assim construiria a minha história”, revela. Quase 40 anos depois, Mucki afirma que vive um momento de plenitude, desenhando e compondo grandes pinturas com miçangas de vidro, verdadeiras tapeçarias contemporâneas, repletas de movimento e texturas. “Desenvolvi uma paleta exclusiva de tonalidades e, assim, consigo criar combinações surpreendentes”, afirma. Recentemente, esteve em cartaz na exposição “Janelas Imaginárias”, na galeria Galatea, em Salvador. Criou para lá 14 obras, muitas de grande formato, trazendo, em sua maioria, imagens da natureza: matas, flores, plantas que habitam seu imaginário e são itens fundamentais na sua essência estética. “Revelo, no meu traço, as imagens potentes que me cercam”, diz. As paisagens do Rio de Janeiro, como a Floresta da Tijuca, onde se localiza seu atelier, e o litoral deserto do sul da Bahia, onde tem casa, são reverenciados em sua arte, repleta de flores, manguezais, lagunas e restingas. “Crio, nas telas, um universo vivo e abundante. Muitas vezes aproximo as imagens até elas se tornarem abstratas”, reflete ela que, por muitos anos trabalhou com moda e decoração. “Tive um longo período apostando em estamparia e pintura de tecidos, mas era arte utilitária e eu não queria mais isso. Esse processo acabou desembocando nas obras de arte, com as pinturas emolduradas em quadros. Depois, passei a incluir bordados e, por último, entraram as miçangas”, pontua sua trajetória. Para compor suas “pinturas com miçangas” _ conceito definido por Leonel Kaz, curador da exposição “Janelas Imaginárias” - , Mucki leva muitas vezes cerca de dois anos. Nesse processo, a etapa inicial é a composição do desenho, que depois é digitalizado em uma lona e todo marcado com alfinetes, determinando cor e tamanho de cada miçanga, em um ritual minucioso onde ela diz perder a noção do tempo. “Sou muito agitada e esse trabalho inicial me traz calma e concentração. É uma verdadeira terapia”, diz. Depois, as peças seguem para um coletivo de bordadeiras, espalhadas pelo Rio de Janeiro e em Ilhéus, na Bahia, que se debruçam sobre cada imagem, tecendo o mosaico de texturas. “Parece simples, mas há um intenso vai e volta nesse acompanhamento das etapas. Muitas vezes desfaço parte das obras, porque reparo que uma tonalidade entrou errado, a proporção do desenho não funcionou”, conta, feliz de proporcionar o empoderamento de uma rede de mulheres em situação de vulnerabilidade, gerando uma fonte adicional de renda para mais de 30 famílias. “Além de ser um trabalho que captura a riqueza natural e cultural brasileira, estou combinando arte com impacto social, oferecendo oportunidade de crescimento para uma mão de obra talentosa e, muitas vezes, invisível”, conclui.