Artes _ 08 maio _ por Simone Raitzik

Paula Braun: a televisão como um lugar de brincadeira

Aos 45 anos, Paula Braun vê a passagem do tempo como um grande aliado da beleza, plenitude e maturidade. “Existe uma escassez de trabalhos nos palcos e TV nessa idade, mas estou tendo a oportunidade de me envolver e produzir projetos que acredito”.

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Logo cedo, Paula Braun entendeu que o palco era o seu habitat. Aos 13 anos, em Blumenau, onde nasceu, começou seus estudos de teatro e, aos 17 anos, se mudou para São Paulo para viver mais intensamente essa vocação, estudando com o mestre Antunes Filho. Depois voltou para sua cidade natal, em Santa Catarina, entrou para o grupo Companhia Carona e, com a montagem “Os camaradas”, recebeu convites para viajar por todo o Brasil. “Esse momento me trouxe visibilidade. Fui chamada para fazer filmes com o Heitor Dhalia e, com essa virada para o cinema, me mudei definitivamente para o Rio, onde as oportunidades eram maiores. E aqui estou, carioca convicta e estabelecida há 20 anos”, revela. A carioquice assumida de Paula foi reforçada por uma bela história de amor. Há 16 anos, se apaixonou por um parceiro de trabalho, o também ator Mateus Solano (se conheceram em 2008, quando atuaram juntos no curta “Maridos, Amantes e Pisantes”), com quem casou e teve dois filhos: Flora, 13 anos e Benjamin, 9. Juntos, mudaram para uma casa confortável, na Joatinga, com direito à vista do mar no horizonte, piscina, aconchego e quintal. “Já tivemos altos e baixos, como todo o casal, mas nossa relação é baseada em uma amizade e parceria bem sólidas. E temos dois filhos queridos, amigos, que são um privilégio, uma alegria vê-los crescer”, conta ela, acrescentando que o tema “longos relacionamentos” a interessa especialmente - e gerou o documentário “Ioiô de Iaiá”, que dirigiu em 2019. “Fico bastante intrigada do porquê duas pessoas escolhem estar juntas por tanto tempo, no caso do filme entrevistei casais que convivem há cerca de 50 anos lado a lado. Desvendar o que sustenta uma relação, os medos, as dependências, o amor, isso é fascinante”. Hoje a carreira de diretora segue paralela à de atriz. Recentemente, Paula atuou por uma longa temporada na peça infantil “Creme do Céu”, uma vontade que surgiu forte depois que virou mãe e que a levou a viajar pelo Brasil inteiro. “O teatro tem a magia do momento e do contato direto com o público. Um feedback imediato. Nessa peça, visitamos lugares remotos no Nordeste, passamos pela Serra Pelada, e foi uma experiência de vida, porque em várias cidades as crianças nunca tinham assistido uma peça de teatro e demoraram a entender que a encenação não era real. Todos olhavam encantados, hipnotizados, reagindo de forma genuína e ingênua. Foi forte e transformador”, diz ela. Já os trabalhos em televisão trouxeram uma ligação imediata com o público, um reconhecimento que ela julga extremamente necessário para todo o ator. Paula já atuou em séries - “O sistema” e “Tudo novo de novo” -, além de "Malhação”, e, em algumas novelas, como “Amor à vida”. Recentemente, se destacou desempenhando a Olivia, uma ex-dançarina em “Cara e Coragem". “Eu adoro fazer todos os clichês: chorar, me arrastar, subir pelas paredes, acho tudo divertido na novela. Vejo a televisão como um lugar de brincadeira, onde posso viver várias situações e sentir o quanto consigo atingir as pessoas, experimentar esse impacto de ser reconhecida na rua. Como a Olivia, recebia direto conselhos do tipo ‘larga aquele cara, ele não presta’. Essa troca é boa demais”, conta. Aos 45 anos, Paula declara ser bem resolvida com a idade. Se os seus 30 foram o momento da “maternidade”, quando deu uma parada na carreira e focou na educação dos filhos, agora, aos 40, acha que está plena e serena, pronta para se lançar em diferentes projetos com segurança e disponibilidade. “Olha, aos 20 eu era bem ansiosa. Hoje, não me sinto mais com obrigação de provar nada. Inclusive com relação à aparência, acho bem complicado começar a mexer no rosto, tentar parecer mais jovem. Tenho tendência a aceitar as mudanças de forma natural e tranquila”, revela. Entre as novidades, conta que está escrevendo um livro, tem o texto pronto de uma peça - “Café Frio” -, e está no processo de produzir o longa que desenvolveu o roteiro e vai dirigir, “Marinas e Maçãs". Mas a realização que vem sacudindo a emoção, no momento, é a ideia de ocupar as ruas tocando no bloco de carnaval “Mulheres rodadas”, que ensaia o ano inteiro e apresenta apenas músicas compostas por mulheres. “Adoro me fantasiar e andar pelo centro do Rio, que é um lugar lindo mas abandonado, de forma alegre e lúdica. Tudo me interessa e estou aberta ao novo e deixando o conformismo de lado. A hora é essa”, aposta.