Pina amplia espaço das artes no centro de São Paulo
Com os prédios da Pinacoteca e as instituições em torno, forma-se um dos maiores conjuntos de artes e cultura da América Latina.

O hábito que o paulistano tem de abreviar as palavras parece estar na razão inversa de sua mania de gigantismo. Um nome curto serve para designar uma pessoa, um monumento e até uma torre de 50 andares. Essa relação se repete com a inauguração da Pina. O nome talvez soe excessivamente breve para o megamuseu de arte, que ocupa uma área de 22 mil metros quadrados no parque Jardim da Luz e conta com uma área de 10 mil metros quadrados, 6 mil de área construída, dotada de duas galerias, uma biblioteca especializada em arte contemporânea, dois salões para seminários e estudos, anfiteatro, restaurante, cafeteria. Também conta com o átrio imenso, com cobertura translúcida de madeira, projetada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha (1928-2021), encarregado da reforma do prédio histórico da Pinacoteca do Estado de SP em 2001. O átrio abriga a praça que une todos os projetos. Nela, sempre ficará exposta uma obra de grandes proporções. A primeira é a escultura Tríade Trindade (2001), do artista pernambucano Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, consagrado em São Paulo como Tunga (1952-2016). “Tunga está aqui tanto como um monumento transitório como para dar boas-vindas ao visitante”, diz a curadora geral Ana Maria Maia. A obra serve como pórtico para a Grande Galeria Subterrânea, que, com seus mil metros quadrados, abriga a exposição Chão da Praça, organizada por Ana Maria Maia, com peças em grandes dimensões de 48 artistas, entre eles Maria Bonomi, Emanoel Araújo, Claudia Andujar, e Lygia Pappe. Até então, as obras estavam fora dos olhos do público, guardadas na reserva técnica que, como diz Ana Maria, “finalmente encontram um espaço expositivo”. A galeria menor, a Galeria Praça, de 200 metros quadrados, traz uma grande mostra inédita da artista sul-coreana Haegue Yang, de 52 anos. “A inauguração da Pina resume a história da arquitetura brasileira”, diz o diretor geral da Pinacoteca do Estado e curador, Jochen Volz. “De alguma forma, é como se ela contasse os vários momentos da vida da cidade.” A Pina começou a ser construída em 2018 e as obras atravessaram a pandemia de covid-19. O projeto inteiro custou R$ 55 milhões, em parceria do Estado com a iniciativa privada. Originalmente, funcionava no local uma escola estadual, a Prudente de Moraes Neto, construída nos 1950 com projeto do arquiteto Hélio Duarte – o pátio de recreio original deu lugar ao átrio. A estrutura de pátio e duas alas foi mantida pelo escritório que projetou a Pina, Arquitetos Associados, de Belo Horizonte (o mesmo grupo que fez o complexo de Inhotim). A escola precede a construção e seu prédio neoclássico original e foi desenhada por Ramos de Azevedo (1851-1928), autor do prédio monumental da velha Pinacoteca, inaugurada em 1905. Ramos de Azevedo ocupava um escritório ainda hoje de pé, nos fundos da antiga escola, e foi incorporado à Pina. Hoje a escola se mudou para o bairro da Barra Funda. O sonho de Volz se realiza: unir a Pinacoteca, dedicada à arte acadêmica e moderna, ao Jardim da Luz. Isso com a Pina servindo de ponte. O Jardim da Luz, que fica nos fundos da Pinacoteca, é o parque mais antigo de São Paulo. Foi inaugurado em 1825 e, apesar de ter sido pensado como um jardim botânico, hoje conta com esculturas históricas, com obras da modernista Maria Martins. Com os prédios da Pinacoteca – ela conta ainda com o Espaço Pinacoteca, para exposições temporários – e as instituições em torno, forma-se um dos maiores conjunto de artes e cultura da América Latina, superado apenas pelo parque que abriga o Museu Nacional de Antropologia, na Cidade do México. “Estamos estimando que um milhão de pessoas venha visitar a Pina todo esse complexo de instituições”, afirma Volz.

Grande Galeria Subterrânea, com seis mil metros quadrados, abriga a exposição Chão da Praça, com peças em grandes dimensões de 48 artistas
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Com a Pina Luz, dezenas de obras guardadas na reserva técnica da Pinacoteca do Estado de São Paulo encontraram um espaço expositivo
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Um dos maiores conjuntos de arte e cultura da América Latina, a Pina ocupa e uma área de 22 mil metros quadrados no parque Jardim da Luz, região central da capital paulista
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Jochen Volz, diretor geral da Pinacoteca do Estado e curador: "A inauguração da Pina resume a história da arquitetura brasileira"
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Ana Maria Maia, curadora geral da Pina e organizadora da exposição "Chão da Praça", com peças em grandes dimensões de 48 artistas
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