Silvia Buarque: uma vocação artística quase inevitável
O fato de ser filha de pais famosos no início intimidou a atriz, mas o apoio deles foi fundamental no incentivo e entendimento que a sua escolha profissional seria um caminho árduo.
Ela descobriu, muito jovem, que atuar era uma vocação quase inevitável. Silvia Buarque, hoje aos 54 anos, lembra que o início da carreira de atriz foi quase por acaso. Com 17 anos, bailarina nas horas vagas, pensava em dançar e estudar Antropologia. “Eu era uma adolescente animada, cheia de ideias na cabeça”, lembra. Foi no final de 85, que em um encontro com Carlos Wilson - o “Damião”, que produziu “Capitães de areia”, com Felipe Camargo e Dedina Bernardelli -, em uma mesa do Baixo Gávea (reduto boêmio na zona sul carioca), que veio o convite para se juntar à trupe de jovens que iria encenar “Os 12 trabalhos de Hércules, parte 2”. “A parte 1 eu tinha visto e adorado, fez bastante sucesso. Fiquei assustada em pisar no palco sem nenhuma experiência, mas Damião disse que era um musical e que eu não precisaria falar, só dançar. A partir daí, entrei para os cursos do Tablado e entendi o que era atuar. Fiz em seguida vestibular, cheguei a me matricular em Geografia na PUC, mas comecei a fazer a novela ‘Corpo Santo’, na TV Manchete. Ali conheci o Chico Diaz, que veio a ser o meu companheiro e pai da Irene, minha filha hoje com 18 anos. Engatei depois em ‘Bebê a bordo’ (1988) e quando percebi, já era uma atriz em horário integral. Um caminho sem volta”, lembra. Depois desse início meteórico na TV, Silvia sentiu saudades da base - e voltou a fazer teatro. Trabalhou com diretores consagrados, como Moacyr Góes, Bia Lessa, Gabriel Vilela, nomes que, para ela, foram grandes mestres e fundamentais na sua formação como atriz. ”Comecei a tomar realmente as rédeas da minha trajetória e ter um entendimento maior da minha profissão. Mas confesso que não existe muito plano de carreira não. No Brasil, vamos seguindo o fluxo dos convites e oportunidades que aparecem”, revela. O momento atual de Silvia está sendo riquíssimo, já que está em cartaz em duas produções no streaming: “Impuros”, quarta temporada (Star Plus); e “Betinho, no fio da navalha” (Globoplay). Além disso, atuou no cinema em “Gonzaga: de pai para filho” (2012), “Homem Onça” (2021), entre outros, e recentemente finalizou o longa “Mais pesado é o céu”, de Petrus Cariry (2023). No teatro, Silvia é produtora e protagonista da peça “A menina escorrendo dos olhos da mãe”, ao lado de Guida Vianna que, desde a estreia vem lotando todas as sessões no Poeirinha carioca. “Esse texto é de autoria de Daniela Pereira, que me procurou durante a pandemia, em 2020. Ela me viu em cartaz em ́ Um homem sem qualidades´, de Bia Lessa e ‘Ventania’, de Gabriel Vilela, e se apaixonou pelo meu trabalho.” Quando leu a história diz ter ficado impactada. “Chamei a Guida para contracenar, o Leonardo Neto para dirigir, e resolvi produzir, com um orçamento reduzido. E esse processo todo está sendo só alegria”, conta, com a agenda já programada para levar a peça para outros estados. Esse sucesso alimentou a vaidade de Silvia, que confessa ter um certo incômodo com a fama. “Nunca me senti à vontade de aparecer muito e isso até prejudica, de certa forma, minha carreira na televisão. Acho que sou uma atriz alternativa, que se apaixona por bons papéis, sem ficar rotulada. Fujo de categorizações”, diz. O fato de ser filha de pais famosos - Marieta Severo e Chico Buarque - no início a intimidou, mas o apoio deles foi fundamental no incentivo e entendimento que a sua escolha profissional seria um caminho árduo. “Essa carreira tem muitos altos e baixos. Épocas de trabalho intenso e momentos de total calmaria. Mas meus pais sempre me apoiaram e frisavam que, se era esse o meu desejo, que eu fosse atrás e lutasse por ele. Eram sempre muito corujas. Um privilégio”, conta ela, agora de olho em Irene, sua filha, que está pensando em cursar Artes Cênicas. “A história se repete. Só tenho que tomar cuidado para não influenciá-la e ter a mesma liberdade que experimentei”, arremata.