Design _ 10 abril _ por Silvana Maria Rosso

Tommaso Bovo: O design dos italianos

Para o designer, crítico e professor italiano Tommaso Bovo, o design nasce da relação simbólica e emocional que estabelecemos com os objetos.

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Autor do estudo “Design Data”, Tommaso Bovo, junto com estudantes do ISIA, ouviu 152 estúdios de design de produto na Itália. O foco? Não são as empresas, mas os próprios designers. Nada de análises prontas: os dados são apresentados de forma aberta, para que a comunidade pense, questione e reflita. O que a pesquisa revelou? Um embate de gerações. De um lado, nomes consagrados; do outro, uma nova guarda crítica, inquieta e disposta a reinventar. Entre tradição e ruptura, surgem os dilemas que estão moldando o design contemporâneo. Os objetos não precisam durar para sempre — mas precisam continuar fazendo sentido. Eles não são apenas funcionais — carregam histórias, despertam memórias e criam significados. Vivemos hoje a era do design líquido. Saímos do objeto sólido para a imaterialidade. Do século das certezas para um tempo de flexibilidade. “Basicamente, o design é para o ser humano.” É assim que Tommaso Bovo abre uma provocação fundamental: como o Salone del Mobile vai lidar com essa dimensão essencial do design? Para Bovo, o design nasce quando o ser humano começa a criar objetos — e, com isso, estabelece com eles uma relação simbólica, afetiva, sensorial. Um objeto não é apenas funcional. Ele pode despertar memórias, provocar emoções, carregar histórias. Na visão do autor de “Design Líquido”, estamos vivendo uma revolução: do objeto sólido ao design fluido — da colher à imaterialidade. Se no século XX o design refletia grandes certezas e ideologias rígidas, hoje ele se transforma em algo flexível, mutável, adaptável. Os objetos já não precisam durar para sempre, mas precisam continuar fazendo sentido. E se o design perder essa conexão humana? “Provavelmente, não teria mais razão de existir”, afirma Bovo. Em um mundo cada vez mais imaterial, a questão que fica é: como o design pode — e deve — continuar respondendo aos desejos humanos não só de utilidade, mas de pertencimento, memória e felicidade? “Todos nós temos uma tendência inconsciente de deformar a realidade a partir das nossas teorias. Talvez seja hora de deformarmos nossas teorias a partir da realidade — e não o contrário.” Foi com essa postura crítica que Tommaso Bovo uniu-se aos estudantes do ISIA para criar “Design Data”. O objetivo? Compreender quem são os protagonistas, as tendências e os conflitos que moldam o design contemporâneo italiano. Diferente de estudos tradicionais, “Design Data” não foca nas empresas, mas nos próprios designers. E, em vez de oferecer análises prontas, apresenta dados brutos, sem filtros, incentivando reflexões livres e abertas por toda a comunidade. O estudo revelou um embate geracional: de um lado nomes consagrados que vem do passado; do outro, a nova guarda representada. São visões que, por vezes, entram em confronto — sinalizando uma mudança real na forma de pensar e fazer design. As empresas protagonistas continuam sendo as estrelas do “período de ouro” do design italiano. Mas quem são os novos protagonistas? Eles serão capazes de consolidar uma nova identidade para o futuro? "A sorte do design italiano é ter tido uma história importante. O azar do design italiano é ter tido uma história importante." O design italiano ainda dita tendências ou o mundo já superou essa centralidade? Tommaso Bovo, crítico e pesquisador, aponta: novas empresas e estúdios surgem há mais de uma década, dentro e fora da Itália, renovando o setor com propostas ousadas — especialmente nos países nórdicos. Enquanto marcas clássicas apostam em longevidade e legado, startups de design abraçam a inovação e o diálogo com jovens talentos. Mas será que tradição e futuro conseguem coexistir? Há quem veja o design como ferramenta de mercado; outros, como força política capaz de transformar comportamentos. E você, acredita que o design pode mudar o mundo — ou, ao menos, a sua sala de estar?