Arquitetura _ 25 outubro _ por Sérgio Zobaran

A conexão com as raízes na arquitetura de Wesley Lemos

O arquiteto e designer sergipano é nome reconhecido da nova geração de profissionais brasileiros no Nordeste, dividindo sua atuação entre Sergipe, Bahia e São Paulo.

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Estância, no interior de Sergipe, conhecida como cidade-jardim, e que se traduz em um celeiro de artistas, de santeiros a escritores* - é também berço do arquiteto Wesley Lemos. Em 1979, ali nasce este que é o mais velho de quatro filhos de uma família então muito simples - e que viu na força do pai, um ajudante de pedreiro que se tornou administrador de empresas, um espelho para as suas próprias lutas. Wesley tornou-se o primeiro dos filhos a se formar em uma faculdade e percorrer novos caminhos para traçar a sua história. O gosto e o talento artístico já se manifestavam na infância de Wesley, herança dos avós paterno e materno, um carpinteiro e um sapateiro, respectivamente, e do tio-avô Manoel Sobral, construtor reconhecido na época, e no ateliê de costura da mãe, que também era arte-educadora, foi se desvendando entre desenhos e brincadeiras. De Estância, a mudança para Aracaju, já trouxe o canto, a poesia e a música da Lira Carlos Gomes. Na capital continuou o canto coral e outros cursos de arte sem deixar de lado os estudos intensos, e até duas escolas ao mesmo tempo. Durante a Escola Técnica, onde conheceu o ofício do arquiteto, um esforço para chegar à universidade, onde foi o único negro a se formar naquela que foi uma das primeiras turma dos curso de arquitetura em solo sergipano. Seu primeiro projeto completo não poderia deixar de ser a casa da família, na praia em Abaís, no litoral sul, próximo a Mangue Seco, e que trouxe o alpendre onde ainda se ouvem as histórias do pai. O meticuloso Wesley faz parte “da última geração do desenho à mão”, e ainda hoje seu processo criativo perpassa pelos lápis e papel manteiga, apesar do seu estúdio ter práticas colaborativas que se comunicam com diversas tecnologias. Seguindo as orientações dos professores que vinham ‘de fora’ (Minas e Bahia), sempre teve um olhar genuíno, influenciado desde o início pela arquitetura de Lina Bo Bardi e Zanine Caldas. TEMPOS E MUDANÇAS Era 1999 inicia sua atuação no mercado, além de fazer trabalhos para outros arquitetos, e as práticas artísticas levam a seus primeiros clientes nos anos 2000 em Aracaju, direto do seu primeiro escritório - montado na garagem, com a prancheta improvisada pelo pai a partir de uma antiga porta -, nosso jovem arquiteto ganha um concurso para a primeira mostra de arquitetura de seu estado. Em 2003, ainda na universidade, mas já com fôlego de profissional, “estoura” com o projeto do restaurante a Casa do Cuscuz, de culinária regional, inspirado na obra do paraibano Ariano Suassuna. Em 2005 Wesley vai para a Bahia, lá assina um espaço no tradicional evento Casa Cor, e acontece! Aí começa a fazer lojas e casas, em um estilo único, tudo misturado, criando o “Luxo Tropical”, uma forma de descrever um pouco dessa combinação ímpar da sua assinatura, o que faz com maestria. Sucesso! Já no ano de 2010 o rumo é um vai-e-vem a São Paulo, na busca incessante pelo conhecer, onde seu trabalho inquieto cresceu organicamente, e foi da assinatura de vitrines de lojas a mostras de design como o BoomSP DE e a Modernos Eternos. DE VOLTA ÀS ORIGENS Na pandemia, período em que viveu trabalhando em São Paulo, Wesley aprofunda seu interesse pelo coletivo, encontrando nele um solo fértil paulistano, fazendo um caminho de volta “à minha conexão com os meus”: “um bicho solto” diretamente na cultura afro-brasileira. E entre sociólogos, filósofos, artistas e curadores, se pergunta: “Que casa brasileira podemos fazer onde possamos buscar nossas origens?”. Ligado de corpo e alma aos povos originários, à natureza e a seus materiais, das folhas de bananeiras às fibras em geral, por exemplo, o arquiteto se volta para a multi-função e colabora com o MUNCAB - Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira, reaberto em 2023, depois de estar fechado por vinte anos. Ali ele colaborou com expografia e orientação técnica, além de assinar o projeto de sua loja Odoyá, dando nova vida à instituição ao fazer parte de seu conselho curatorial. - Vídeo e fotos: Matheus Campos